Resumo |
O livro O Sujeito não Envelhece: Psicanálise e Velhice, de Ângela Mucida, discute a perspectiva do envelhecimento fundamentada na psicanálise, dando especial atenção à ressignificação dessa etapa da vida pela pessoa idosa. O ponto de tensão se refere, principalmente, à condição em que o discurso sobre a velhice reduz o sujeito à condição de invisibilidade social justamente na operação que o aloja (e o isola) na categoria “velhice”. Trata-se de uma categoria estigmatizante, vinculada, frequentemente, à inutilidade, à falta de desejo e de sexualidade, a um período relacionado ao retraimento da vida pública e à deterioração física e cognitiva. Dessa forma, o estudo objetivou, também, colaborar com a desconstrução dos significantes engessados sobre a velhice, que reforçam a predominância de um sentido utilitário – “não serve para nada” –, cristalizado no discurso coletivo sobre essa etapa da vida. Com a análise da música “Envelhecer”, foi possível refletir sobre a ideia de “narcisismo e imagem do corpo” quando ela destaca que as perdas físicas revelam outro corpo (cabelo ralo, barba descendo) que possibilita outro significado para o novo eu. A música também destaca a oportunidade de um novo futuro (sem filhos e com tempo para novos projetos) em um momento da vida que a novidade não é esperada. A percepção de um corpo estranho para o sujeito que vive a velhice também pode ser abordada na música com elementos que fornecem um olhar simbólico e imaginário do real, como “estar no meio do ciclone” e querer “que o tapete voe”. Os estranhamentos causados pela velhice podem justificar determinadas rotinas - que são denominadas, pejorativamente, de "mania de velho" - como forma de assegurar alguma regularidade em um momento instável da vida (tendo em vista as mudanças físicas e cognitivas). No entanto, há vivências proporcionadas pela velhice que ressignificam o cotidiano do sujeito: o familiar em uma nova perspectiva. E a música auxilia para entender isso: o som da sirene que retira o sujeito de uma zona confortável e o faz “levantar do sofá”; a vontade de escutar “Rita Pavone”; a panela de pressão e a pia pingando, que reafirmam a inconstância da vida. Tudo isso oportuniza o sujeito a viver o “familiar” e o “não familiar” no processo de envelhecer em seu cotidiano, seja habitando ou não a “casa da velhice”. Essas situações lhe dizem mais respeito do que os significantes sociais cristalizados em uma rede coletiva que proporciona determinações puramente instrumentais. |