Resumo |
Este estudo propõe analisar os impactos da formação histórica brasileira. Tenciona-se compreender as particularidades do campo no Brasil no que tange às expressões da “questão social”, traçando um recorte de raça, além de um delineamento do revés classista que permeia o latifúndio brasileiro. Trazendo como metodologia uma revisão bibliográfica dos dados existentes. A herança agrária do país, cresceu conforme aponta Fernandes (1968) baseado na produção agrícola para exportação. Villas Bôas (2011) indica que o capitalismo só veio a se estabelecer no país com base na força de trabalho escravizada. Mesmo com a abolição da escravatura, os afro brasileiros não tiveram acesso às terras, separando o produtor de seu meio de produção, sem nenhuma forma eficaz de introdução dessas pessoas na lógica do trabalho livre e assalariado, visando a desobjetificação destes. Neto (2011) denota a “questão social” como a contradição entre capital e trabalho. Para ver a dimensão da mesma no campo, Ianni (1971) menciona que a formação do proletariado rural no Brasil pode ser dividida em três períodos: a fase predominantemente escrava, o lavrador e por último o proletário. As modificações ocorreram de forma lenta e gradual, notadamente com a queda do regime oligárquico, a partir da Revolução de 1930. Entretanto a inserção do Brasil na lógica Capitalista de forma dependente trás uma produção em setores ainda arcaicos, tendo no espaço agrário o motor de sua economia (FERNANDES, 1968). Após o processo abolicionista, a população afro brasileira não tomou os postos de trabalho, pois imigrantes vindos de países europeus procuraram no Brasil moradia e locais de trabalho, trazendo além da tentativa de embranquecimento da população, o ideal meritocrático. Souza (2017) afirma que com a concentração de terras e a formação dos latifúndios os negros passam a ser totalmente excluídos, considerando não ter acesso a terras e por vezes nem ao trabalho nelas. O censo populacional (IBGE, 2010) apresenta que 61% da população que reside na zona rural do país é negra, considerando negros aqueles autodeclarados pretos ou pardos. Denota-se que, mesmo com o passar do tempo, os trabalhadores no âmbito rural continuam a ser negros. Assimilar a atualidade carece da compreensão de que a parcela branca colheu e colhe os frutos dos privilégios de classe, como aponta Fernandes (1989). A questão agrária, racial e classista estão intimamente ligadas. Assim, conceber as implicações da “questão social” no campo brasileiro atualmente não se aparta das discussões sociohistóricas da formação classista brasileira, formadora das oligarquias que colocaram o negro na recente situação de precarização, pobreza e subalternidade. Portanto, para compreender a luta pela terra, é necessário destacar que ela passa necessariamente pela questão racial, Semelhantemente, não há como fazer um debate voltado à questão racial sem abordar o debate de classes, visto que a classe trabalhadora tem cor. |