Resumo |
A rápida ocupação do território brasileiro ocasionou um desmatamento expressivo do bioma Mata Atlântica que atualmente possui apenas 8,5% da área original. O processo de fragmentação desse bioma na bacia hidrográfica do Rio Doce, localizada nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, é resultado do processo da construção de cidades, implantação de infraestrutura viária, atividades minerarias e agrícolas. Testamos a hipótese de que quanto maior a proximidade com cidades e maior sua quantidade maior a alteração da cobertura por fragmentos florestais na bacia do Rio Doce. Nosso objetivo, foi testar essa hipótese, a partir de informações do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), comparando a cobertura do solo para os anos de 2000 e 2010, em 30 pontos na calha ou afluentes do Rio Doce, abrangendo as regiões do alto, médio e baixo Rio Doce. A análise e mensuração dos dados para os dois anos foi realizada em ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG), com o software livre Qgis 3.10 'A Coruña'. Calculamos o percentual de variação na área dos fragmentos florestais inseridos em um buffer de 02 km a partir de cada um dos 30 pontos, e sua relação ao número de cidades no buffer e sua distância mínima ao ponto. Ajustamos uma regressão linear múltipla, com distribuição normal, no software livre R. Diferentemente do esperado, os resultados mostraram que para o período analisado nenhuma das duas variáveis testadas tem relação com as alterações na área dos fragmentos florestais (F2,27 = 0.23 e P= 0.79). Nossos resultados mostraram que a dinâmica da cobertura florestal nesse período de 10 anos não se relacionou à proximidade de cidades. Embora tenham havido aumentos (máximo de 52%) e reduções (máx. de 38%) de cobertura florestal em algumas das áreas analisadas, descartamos a relação com quantidade ou proximidade de áreas urbanas. A matriz de correlações entre a variação das coberturas de solo indicou que a variação da cobertura florestal se correlacionou à variação de cobertura por pastagens, sugerindo que o fator determinante das florestas seria o aumento ou redução nas pastagens. No entanto a variação nos dois tipos de cobertura (floresta versus pastagem) também não foi significativa (F1,18=0.38, P=0.54). É possível que não tenhamos encontrado resultados significativos devido à escala grosseira destes dados para buffers de 20 km, uma vez que os dados do Mapbiomas são de aplicações regionais, e generalizam os tipos de cobertura, o que pode mascarar padrões em escalas espaciais mais finas. Uma análise mais fina, a partir de classificação supervisionada de imagens do Google Earth Pro, estão em andamento. Este estudo é um piloto para estabelecer a utilidade destes dados para explicar alterações na cobertura de solo. Os resultados indicam a necessidade de mapas em menor escala espacial, de forma a distinguir com maior precisão os tipos de cobertura de solo. |