Resumo |
Introdução: a obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. A Atenção Primária à Saúde (APS) é o primeiro nível de contato dos indivíduos com o sistema de saúde, e prioriza ações de promoção da saúde e prevenção/tratamento de agravos. A equipe multiprofissional desempenha um importante papel nesse contexto e, no que tange à obesidade, recebe ainda mais relevância pois, sem uma abordagem interdisciplinar abrangente e atenta aos determinantes sociais da saúde (DSS), não é possível reverter essa condição. Objetivo: compreender o processo de cuidado à pessoa em situação de obesidade realizado pela equipe da APS de um município da Zona da Mata de Minas Gerais. Metodologia: estudo qualitativo no qual 44 profissionais de saúde - incluindo médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde e técnicos de Enfermagem - cadastrados na APS foram entrevistados de forma individual. Os dados foram coletados entre maio e julho de 2023 e analisados conforme a Análise de Conteúdo de Bardin. Resultados parciais: os profissionais possuem clareza da necessidade de um cuidado diferenciado às pessoas em situação de obesidade. Pontuam a importância do acolhimento, orientações, trabalho interdisciplinar e de um atendimento livre de preconceitos na atenção ao referido público. A atuação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, o gosto pela profissão e o apoio de instituições formadoras contribuem para o cuidado prestado pelos profissionais. Não obstante, até mesmo nos cenários de saúde, a obesidade é envolvida em tabus que enviesam algumas abordagens. A opção de não “olhar no olho” ao dialogar sobre necessidades de mudança no estilo de vida; a omissão do peso às pessoas em situação de obesidade e a crença de que esse público “não quer mudar” são elementos presentes nos discursos que elucidam uma compreensão deturpada dos profissionais sobre as pessoas em situação de obesidade e sobre formas qualificadas de oferecer cuidado a elas. Fatores externos aos profissionais também dificultam o trabalho realizado junto a esse público, como a baixa adesão ao tratamento; demora para liberação de consultas e exames, recursos humanos, materiais e físicos insuficientes; sobrecarga de trabalho; falta de apoio da gestão e dificuldade em lidar com os DSS intrínsecos à realidade da obesidade. Os profissionais manifestaram o desejo de realizarem grupos educativos, acompanhamento individual e momentos de atividade física com o público em questão, e relataram a importância do apoio da gestão, mais tempo disponível e capacitações técnicas a respeito do tema. Conclusão: o cuidado às pessoas com obesidade é um grande desafio aos profissionais da APS. É necessário que formações sejam realizadas com as equipes de saúde e que a gestão priorize esse agravo e ofereça os subsídios necessários para que ações efetivas sejam realizadas nos serviços, a fim de mitigar este importante problema de saúde pública. |