Resumo |
No presente trabalho nos centramos analiticamente sobre dados a partir da experiência de três anos de pesquisa (2012, 2013 e 2017) sobre manifestações culturais tradicionais, com foco nas cerimônias do “Congado” em ocorrência em municípios da Zona da Mata Mineira. A meta estipulada foi a de investigar e compreender os processos de elaboração e reafirmação do conhecimento popular a partir de práticas tradicionais ligadas ao que denominamos de “memória social” de comunidades tradicionais, buscando delimitá-lo como “Patrimônio Cultural Imaterial”, por tratar-se de bens culturais no campo da comunicação e linguagem, territorialmente contextualizado, e de complexa precisão justamente por tratar-se de formas intangíveis de expressão que atravessam a história dos grupos sociais. A centralidade nas cerimônias e festividades do Congado surge como dado iminente por sua clara evidência de tradição étnica afro-brasileira na região acima mencionada. No Brasil a questão étnico-racial é classicamente objeto de pesquisa das Ciências Sociais na discussão crítica sobre sociedade, relações de conflito, Direitos e cidadania, sendo o negro e o índio personagens centrais neste debate. Estes dois segmentos incorporam a diversidade “exótica” do país e são os mais penalizados com o processo de desenvolvimento, alijados de vários Direitos, principalmente o territorial e o de reconhecimento de um patrimônio cultural que efetivamente integra a riqueza do país. A “Festa do Congado”, que assimila traços da cultura africana aos festejos de Nossa Senhora do Rosário, impacta, por força da tradição, em formas de organização social dos moradores de localidades da Zona da Mata Mineira. A Festa e seu ciclo ritual é perpassada por narrativas sobre trabalho duro pela sobrevivência material e moral, de resistência ao preconceito racial, e de conquista de espaços de expressão através da prática do Congado, seja na organização da vida familiar, no espaço público, no trabalho assalariado, no cultivo da terra, no lazer, nas relações políticas comunitárias. Foi neste contexto que investimos etnograficamente no levantamento e registro escrito e audiovisual destas narrativas em torno dos modos de festejar e dançar o congado, do contar suas histórias, de maneira que pudéssemos nos aproximar do imaginário que marca certa identidade regional e de resistência em performance, cujo corpo que a pratica tem sua centralidade. |