Resumo |
O uso de antibióticos com finalidade profilática e/ou como promotores de crescimento em animais de produção tem sido criticado devido à seleção de bactérias resistentes a antibióticos e a possível transferência de genes de resistência ao longo da cadeia alimentar. A transferência horizontal desses genes mediada por plasmídeos contribui para a disseminação de resistência entre humanos, animais e o ambiente, sendo, portanto, relevante no contexto da saúde única. Dessa forma, neste trabalho o objetivo foi detectar genes de resistência a antibióticos (GRAs) em plasmídeos de Escherichia coli e Salmonella enterica de suínos, bovinos e aves. Para isto, sequências plasmidiais foram obtidas do banco de dados Patric e comparadas com o banco de dados do Resfinder, utilizando como parâmetros de alinhamento 90% de identidade de nucleotídeos e 70% de cobertura de sequência. Os resultados indicaram predominância de genes de resistência a aminoglicosídeos (n=36), β-lactâmicos (n=39), sulfonamidas (n=26) e tetraciclinas (n=23) nos plasmídeos avaliados. Salmonella apresentou maior número de GRAs enquanto os suínos apresentaram maior frequência de plasmídeos com genes de resistência. Além disso, todos os grupos de animais apresentaram Escherichia coli e Salmonella enterica contendo plasmídeos que conferem multirresistência aos patógenos. Em bovinos, dos 79 plasmídeos avaliados, identificou-se 57 GRAs, com prevalência de resistência aos β-lactâmicos (n=18). Destes, 22 foram detectados em Escherichia coli, com múltiplos genes identificados nos mesmos plasmídeos. Em Salmonella enterica associada a bovinos, identificou-se 35 GRAs, sendo 10 deles correspondendo ao gene blaCMY-2. Em aves, foram analisados 9 plasmídeos de Escherichia coli e foram detectados 8 genes conferindo resistência a diferentes classes de antibióticos. Em Salmonella enterica isolada de aves foram avaliados 43 plasmídeos, sendo que 10 GRAs foram detectados em um mesmo plasmídeo na estirpe Salmonella enterica C629 e 8 genes no plasmídeo de Salmonella enterica D90, dentre os quais o gene mcr-1 que confere resistência à colistina. Em suínos, detectou-se 33 GRAs distribuídos em 11 dos 31 plasmídeos de Escherichia coli analisados, com prevalência de resistência a aminoglicosídeos (n=9). Nas estirpes de Salmonella enterica de suínos, foram analisados 8 plasmídeos e detectados 22 GRAs, com ampla distribuição de genes nas maiorias das classes avaliadas. Esses resultados confirmam a prevalência de plasmídeos multirresistentes em patógenos frequentemente associados com animais de produção e que provocam desordens gastrointestinais e perdas econômicas expressivas no setor agropecuário. A presença desses genes em elementos genéticos móveis sugere que os mesmos possam ser transferidos horizontalmente entre bactérias patogênicas e comensais nesses sistemas de produção. |