Resumo |
Muitas são as espécies essenciais para a manutenção de biomas de florestas tropicais e que ainda não possuem descrição detalhada da estrutura e do funcionamento do aparelho digestório, como Philander frenatus, sobre o qual foram realizados somente estudos macroscópicos. Objetivou-se com este trabalho, descrever a morfofisiologia do estômago de P. frenatus, enfatizando as adaptações ao seu regime alimentar onívoro-insetívoro. Foram capturados quatro indivíduos machos adultos em um fragmento de floresta de Mata Atlântica, no município de Muriaé-MG. Foram coletados e processados para inclusão em parafina, fragmentos da região fúndica do estômago. Cortes de 5 µm de espessura foram corados com Hematoxilina-Eosina (HE) para análise geral dos tecidos e Alcian Blue conjugado com Ácido Periódico de Schiff (AB/PAS) para revelar mucinas ácidas e neutras. Em análise macroscópica, o estômago apresentou formato sacular com fundo cego, ligado cranialmente ao esôfago e caudalmente ao duodeno, sendo a ligação com esôfago e duodeno muito próximas e a curvatura menor bem reduzida. Há várias pregas espessas, distribuídas nas regiões cárdica, fúndica e pilórica, o que permite a distensão do órgão aumentando a sua capacidade de recepção e armazenamento. Estômago grande e com maior capacidade volumétrica reflete a preferência alimentar carnívora desta espécie. Em análise histológica o órgão segue o padrão dos mamíferos, apresentando as camadas mucosa, submucosa, muscular e serosa. A mucosa é revestida por um epitélio simples prismático mucossecretor PAS-positivo, revelando a presença de mucinas neutras que recobrem a superfície do estômago, oferecendo proteção contra a acidez do suco gástrico. O epitélio forma fossetas curtas, nas quais desembocam glândulas tubulares extensas e ramificadas, que ocupam significativamente a lâmina própria (de tecido conjuntivo frouxo), e se estendem até próximo à muscular da mucosa que é espessa com duas camadas de músculo liso. Nas glândulas é possível diferenciar as células parietais (secretoras de ácido) e zimogênicas (secretoras de pepsinogênio) que ocupam o istmo/colo e a base da glândula, respectivamente. Glândulas fúndicas expressivas e com grande densidade de células parietais e zimogênicas também é reflexo de carnivoria. Observa-se a presença de infiltrado linfocitário na lâmina própria, conferindo proteção contra patógenos. A submucosa é composta por tecido conjuntivo denso com a presença de vasos sanguíneos. A camada muscular (de músculo liso) é orientada em duas disposições: circular interna e longitudinal externa. Entre essas duas camadas musculares, encontra-se o plexo mioentérico, responsável pelo controle da motilidade peristáltica. Revestindo externamente o estômago, observou-se a serosa, constituída de epitélio simples prismático. Os parâmetros observados refletem o regime alimentar da espécie, e podem contribuir com estudos futuros sobre a morfofisiologia do aparelho digestório de marsupiais. |