Resumo |
Introdução: Nas últimas décadas, houve incontestáveis mudanças no modo das pessoas lidarem com a comida e o corpo. Estas mudanças são reflexos de transformações sociais ocorridas no âmbito da modernidade tardia, que marcam a necessidade de escolhas, dentre elas, de estilo de vida. O aumento do interesse dos indivíduos com relação às formas corporais e a alimentação “saudável” impulsionou o mercado na busca por novas estratégias que atingissem seu público alvo e as novas questões que ressurgem nesse contexto. Nosso objeto está associado à veiculação de determinadas práticas em publicações femininas, isso porque o ato de se alimentar tornou-se complexo, com inúmeras e contraditórias informações que provocam ansiedade e a sensação de insegurança com relação ao que comer, como comer e seus possíveis riscos. Objetivo: Explorar a apresentação de estratégias de perda de peso em publicações destinadas às mulheres brasileiras, considerando a realização de análise de conteúdo destas estratégias tanto na capa quanto no conteúdo das reportagens e a análise do valor nutricional das dietas associadas. Metodologia: Para a realização desta pesquisa utilizou-se uma abordagem qualitativa tendo em vista o objeto em questão. Com um corpus de estudo composto pelas chamadas da capa, prefácio e reportagens das revistas femininas de circulação nacional, Boa Forma e Corpo a Corpo publicadas no ano de 2015, utilizou-se a Análise de conteúdo na perspectiva de Bardin. Além disso, foi realizada uma análise quantitativa das dietas presentes nas revistas exploradas, analisando a adequação de energia, macronutrientes, cálcio, ferro, fibras e folato de acordo com as recomendações para mulheres adultas de acordo com as DRIs. Resultados e discussão: A partir de uma exploração superficial do material, seguida de análises mais profundas, foram inferidas duas categorias: “comida x alimento: prevalência do biológico” e “corpo ideal: necessidade pós-moderna”– ambas as temáticas intimamente relacionadas em todo o material analisado. Observou-se para todas as publicações, a propagação de um conceito biológico da alimentação, cerceando sempre a escolha por meio do discurso do risco. Em relação ao corpo termos como “emagrece”, “perder”, “eliminar”, “queime”, “detona”, “enxugue”, “reduzir”, “derreter”, “afinar” e “murchar” são amplamente utilizados. Além da perda de peso há espaço para a propagação de dietas específicas para o rejuvenescimento. A partir da análise quantitativa das dietas apresentadas pelas revistas, observou-se inadequações no valor energético e dos micronutrientes cálcio, ferro e folato. Já os macronutrientes e as fibras alcançam os valores de referência. Conclusão: Revistas femininas divulgam ininterruptamente uma série de orientações alimentares e de práticas corporais pautadas na estetização da saúde. A partir de uma apropriação do discurso científico, uma série de alimentos e/ou dietas são propostas sem qualquer preocupação com as consequências desta divulgação. |