Resumo |
Esta pesquisa transdisciplinar desenvolve diálogos entre História e Literatura, visa demonstrar a posição articuladora do Brasil no cenário Atlântico entre América-Europa-África, e pretende analisar como a circularidade cultural entre Brasil, Portugal e Angola é influenciada pela conjuntura intelectual/artística do centenário da Independência brasileira (1922). Para comparar as temporalidades e mentalidades que constituem essas dinâmicas coloniais e pós-coloniais, evidenciam-se: 1) os impactos que a independência política brasileira e sua projeção de uma nova realidade nacional causam em Portugal, que, ao perder esse domínio, tem de repensar seu lugar na Europa e sua imagem de império, passando a concentrar-se nos domínios africanos; 2) as implicações geradas pela independência brasileira nas antigas colônias, como Angola, que torna-se uma alternativa após a perda do Brasil e passa a ser um território efetivamente ocupado nos moldes da colonização portuguesa na América; 3) os movimentos de redefinição cultural que se intensificam no Brasil em 1922, em que os modernistas exploram novas formas de pensar a história da cultura brasileira e reinterpretam a ideia de emancipação, pensada, não em termos políticos e econômicos, mas em termos de autonomia intelectual e artística, anunciando o fim da posição de inferioridade no diálogo com Portugal; 4) a formação do modernismo português, que ocorre após o advento da República (1910), se estende até o final do Estado Novo (1974), e estabelece diálogo com a vanguarda brasileira; 5) e a influência do modernismo brasileiro na produção cultural e nas lutas políticas angolanas, desde o fortalecimento de uma imprensa e de uma literatura nacional, até os movimentos de libertação da segunda metade do século XX, o que indica uma abertura de caminhos, a partir da experiência brasileira, para a autonomia cultural e para a projeção da independência angolana. A metodologia contempla duas áreas: a História Conectada, que apoia a compreensão das dinâmicas entre os espaços observados; e a Literatura Comparada, devido ao caráter de parte da documentação selecionada. Algumas delas são textos ensaísticos, obras literárias e outros objetos culturais, como filmes. Entre as fontes, destacamos, do Brasil: Revista Klaxon, Revista do Brasil, Revista de Antropofagia e Correio Paulistano; de Angola: Mensagem (Revista de Cultura Angolana) e o Diário de Lisboa; de Portugal: Revista Renascença, Revista Orpheu, e dois documentários portugueses: “Deus, Pátria, Autoridade” (1976); e “Fantasia Lusitana” (2010). O estudo dessas fontes nos põe em contato com o trânsito de ideias de nacionalismo, cosmopolitismo e emancipação cultural no Atlântico. Tais redefinições e/ou resgates de heranças são parte das dinâmicas coloniais e manifestam deslocamentos da noção centro-periferia, dado norteador para investigar a tríade da circularidade cultural, envolvida em dissonâncias temporais, espaciais e mentais entre 1922-1974. Agradecemos o apoio FAPEMIG. |