Resumo |
Introdução: O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) possui fisiopatologia multifatorial pouco elucidada e está relacionado a fatores genéticos, hereditários e ambientais. O diagnóstico é clínico e a gravidade do transtorno pode interferir nos estudos, nas tarefas domésticas e na socialização. O tratamento adequado é indispensável para que desfechos negativos como isolamento social e evasão escolar sejam minimizados. Objetivo: Caracterizar o TDAH em crianças com relação à apresentação do transtorno, gravidade e comorbidades. Metodologia: Projeto aprovado pelo Comitê de Ética da UFV (nº 4.364.744) e protocolo de estudo registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos. Após a assinatura dos termos de Consentimento Livre e Esclarecido e de Assentimento pelos responsáveis legais e pelas crianças respectivamente, iniciou-se um estudo de coorte aberta prospectivo realizado na Unidade de Atenção Especializada em Saúde (UFV). Foram incluídas 62 crianças (6 a 14 anos), de ambos os sexos, virgens de tratamento, sem comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas, com critérios diagnósticos de TDAH pelo DSM-5, diagnóstico feito por entrevista semiestruturada, seguida por avaliação psiquiátrica. A apresentação foi definida baseado nos critérios diagnósticos do DSM-5 e com auxílio do SNAP-IV, instrumento de triagem para sintomas de TDAH. Foi utilizada a escala de impressão clínica global (Clinical Global Impressions - CGI), que possibilita ao avaliador registrar a gravidade da doença de acordo com uma escala que varia de 1 a 8 (sendo 1 “não avaliado”, 2 “não está doente”, 3 “muito leve”, 4 “leve”, 5 “moderada”, 6 “acentuada”, 7 “grave” e 8 “extremamente grave”). Tal avaliação de gravidade foi pontuada pela psiquiatra responsável pela pesquisa durante a entrevista clínica. As informações adquiridas foram registradas na plataforma REDCap (Research Electronic Data Capture), uma software sofisticado para coleta, gerenciamento e disseminação de dados, assim como tabulados e analisados no Excel. Resultados: Dos 62 pacientes diagnosticados com TDAH, 32,3% das crianças tiveram apresentação desatenta, 9,7% apresentação hiperativa/impulsiva e 58,1% apresentação combinada. A gravidade do quadro foi moderado em 16 crianças (25,8%), grave em 28 (45,2%) e extremamente grave em 18 (29%). Além disso, 37% das crianças tinham transtorno desafiador e de oposição como comorbidade e 14,5% transtorno do espectro autista, sendo que 53,2% das crianças tinham pelo menos 1 comorbidade. Com o uso de metilfenidato, apenas 3,2% das crianças não obtiveram melhora nos sintomas de TDAH e 88,7% foram classificados como “muito ou extremamente melhor” após 24 semanas de uso do metilfenidato. Conclusão: A maioria das crianças possuíam TDAH com apresentação combinada, gravidade moderada a extremamente grave, associado a pelo menos 1 comorbidade, sendo a mais comum transtorno desafiador e de oposição, e com melhora significativa após 24 semanas de tratamento com metilfenidato. |