Resumo |
Introdução: O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) em crianças acima de 5 anos tem como primeira linha de tratamento os estimulantes. Os estimulantes apresentam poder de resposta entre 70 e 80%, segurança de uso e impacto na mortalidade e desfechos negativos. Porém, do ponto de vista individual pode comprometer apetite, sono, peso e altura, além de parâmetros cardiovasculares. Objetivo: Avaliar dados clínicos e cardiovasculares em crianças com TDAH antes e após tratamento com metilfenidato. Metodologia: Projeto aprovado pelo Comitê de Ética da UFV (nº 4.364.744) e protocolo de estudo registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos. Após a assinatura dos termos de Consentimento Livre e Esclarecido e de Assentimento pelos responsáveis legais e pelas crianças respectivamente, iniciou-se um estudo de coorte aberta prospectivo realizado na Unidade de Atenção Especializada em Saúde (UFV). Foram incluídas 62 crianças (6 a 14 anos), de ambos os sexos, virgens de tratamento, sem comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas, com critérios diagnósticos de TDAH pelo DSM-5, diagnóstico feito por entrevista semiestruturada, seguida por avaliação psiquiátrica. Foram 3 pontos de avaliação: tempo inicial, após 12 e 24 semanas de metilfenidato. As variáveis coletadas foram glicemia capilar (HGT), Índice de massa corporal (IMC), Pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD), frequência cardíaca (FC), temperatura corporal (Tº), nível de atividade física e horas de sono por noite, peso e estado nutricional. Os dados foram descritos em suas frequências absolutas e relativas, por sua média e seu desvio-padrão no software SPSS (versão 23.0 para Windows). Foi usada análise de variância ANOVA (f) para comparações múltiplas, considerando significância estatística com p<0,05. Resultados: Nível de atividade física, PAD e HGT não apresentaram diferenças significativas nos 3 pontos avaliados. As seguintes variáveis apresentaram diferença significativa: IMC (redução p<0,001), PAS (aumento, p=0,005), FC (aumento, p<0,001) e Tº (aumento, p<0,009). Crianças com IMC acima do esperado para sua faixa etária foram 23 (37%), 12 (19,3%) e 13 (21%) das crianças no tempo inicial, após 12 e 24 semanas de uso de metilfenidato respectivamente. Ao longo das 24 semanas de seguimento, entre 3,4 e 4,8% das crianças tinham peso abaixo do esperado, Quase 76% das crianças dormiam ao menos 8 horas por noite, a dose média de metilfenidato utilizada foi de 0,65 mg/kg/dia ao longo das 24 semanas. Conclusão: O uso de metilfenidato associou-se à queda do índice de massa corporal, porém com impacto maior em crianças com sobrepeso e obesidade, não havendo aumento da taxa de baixo peso. Aumentos da temperatura, frequência cardíaca e pressão arterial sistólica foram estatisticamente significativas, porém clinicamente pouco importante, mantendo-se dentro da faixa de normalidade esperada para a faixa etária. A medicação não afetou o número total de horas de sono. |