Resumo |
Na literatura científica os termos deficiência auditiva e surdo são distintos. O primeiro refere-se à perda parcial ou total de som, que pode ser congênita ou adquirida, e é classificada de acordo com o grau da perda, com ou sem a necessidade do uso de próteses. O surdo, por sua vez, é considerado aquele que se reconhece na identidade surda, compreendendo-se como uma pessoa visual do mundo. A Educação Física (EF), como componente curricular obrigatório nas escolas, pode contribuir para a educação de todas as pessoas a partir da especificidade dos seus conhecimentos da cultura corporal. Porém, são incipientes pesquisas com enfoque no ensino da EF para alunos surdos/com deficiência auditiva, especialmente tendo-os como interlocutores diretos. O objetivo deste estudo foi analisar as experiências pregressas e atuais de estudantes universitários surdos/com deficiência auditiva da Universidade Federal de Viçosa (UFV) com a EF e os esportes. A pesquisa é qualitativa e utilizou como técnica uma entrevista semi-estruturada. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos da UFV, sob o número 5.991.525. 7 estudantes participaram do estudo, sendo eles 4 homens e 3 mulheres, entre 20 e 40 anos de idade, graduandos das áreas de exatas, humanas, saúde, etc. Algumas das entrevistas ocorreram exclusivamente em Libras, com a participação de um intérprete e tradutor de Libras/Língua Portuguesa da UFV. Para a análise dos dados, foi utilizada a análise do discurso, que busca captar para além do que é expresso em linguagem, inclusive a subjetividade da prática discursiva. Os resultados principais foram: 1. a comunicação foi uma barreira na EF, predominando o ouvintismo nas culturas escolares; 2. Os significados atribuídos às experiências e vivências com EF e esportes são simplistas, ligados à socialização e saúde e não refletem os avanços teórico-metodológicos da área; 3. as aulas tinham conteúdos repetitivos e separação entre homens e mulheres; 4. a maioria participava da EF escolar por causa da obrigatoriedade; 5. hoje, a importância da EF e dos esportes para eles limita-se à perspectiva da saúde e qualidade de vida; 5. o tempo é um dos fatores limitadores da prática esportiva atualmente, assim como, também, o fator financeiro, motivos que os fazem não se engajarem nos programas e projetos esportivos da UFV. Conclui-se que há barreiras para consolidar o acesso das pessoas surdas/com deficiência auditiva aos conhecimentos da EF escolar e isto, somando-se a dificuldades gerais da área quanto às práticas pedagógicas esvaziadas, limita os significados e sentidos aprendidos e atribuídos por eles à EF e esportes, fenômenos sociais muito mais amplos em diversidade e contribuição para a formação humana. É preciso repensar e formular ações e/ou políticas institucionais e públicas para a EF e prática de esportes para pessoas surdas/com deficiência auditiva nas instituições de ensino, ampliando sua compreensão e possibilidades com a cultura corporal. |