Resumo |
O transfeminismo é uma corrente do pensamento feminista feita por e para mulheres transgênero, travestis e outras vivências dissidentes à norma cisgênera, que reconhece e busca incluir as experiências e lutas das pessoas transgênero dentro do movimento feminista. Ao contrário do feminismo hegemônico, que adota uma abordagem universalista, o transfeminismo busca romper com essa concepção e contribuir para evitar a marginalização de certos grupos de indivíduos. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de dois alunos do curso de graduação em Serviço Social que abordaram o tema durante a disciplina ERU 410 - Relações raciais, gênero e trabalho. Nessa disciplina, os alunos tiveram a oportunidade de explorar a temática do transfeminismo, realizando uma análise interseccional da vida da deputada federal Erika Hilton e as contribuições da mulher travesti e doutora Letícia Nascimento a partir de sua obra intitulada Transfeminismo, lançada em 2021 como parte da coleção Feminismos Plurais coordenada pela filósofa Djamila Ribeiro. A apresentação do trabalho teve como objetivo não apenas descrever as vivências, mas também elucidar a importância da teoria transfeminista nos espaços educacionais. Foi destacado que esse tema não é abordado na Universidade Federal de Viçosa, mas que despertou grande interesse, definindo o público-alvo deste estudo os discentes e docentes da disciplina. O intuito era discutir os desafios, potencialidades e percepções em relação à introdução dessa temática no ensino superior. A proposta era esclarecer a temática do transfeminismo como uma teoria social crítica que aborda os fenômenos sociais relacionados aos eixos temáticos de gênero e cisgeneridade. Foram explicitados sua historicidade, origem, importância, conceitos e epistemologia. A partir disso, foi apresentada a experiência vivida em sala de aula, destacando as atividades avaliativas que foram realizadas e que permitiram a abertura para a diversidade temática, desde que estivessem em diálogo com os eixos de raça, gênero e trabalho, e sua relação com a turma. Na tentativa de elucidar e promover um maior diálogo sobre a temática, o resultado mostrou-se muito positivo, uma vez que os discentes presentes demonstraram uma maior compreensão sobre a importância de considerar o transfeminismo como um movimento de descentralização da norma hegemônica e como fonte rica e valiosa de saberes. Além disso, ressaltaram a contribuição do transfeminismo para um feminismo interseccional. Essa atividade revelou-se efetiva na construção de um debate consistente e permitiu até mesmo a modificação da ementa da disciplina, que não incluía textos aplicados a corpos trans. Concluímos que a incorporação da temática na disciplina foi de grande valia à formação dos estudantes ali presentes, advindos de cursos diversos como serviço social, cooperativismo, ciências biológicas e agronegócio, o que demonstra que a temática deva ser vista e incorporada pelo corpo docente da universidade. |