Resumo |
Anticarsia gemmatalis (Hübner, 1818) (Lepidoptera: Noctuidae) é uma das principais pragas da cultura da soja na região Neotropical e a principal praga da cultura no Brasil. As interações insetos-microrganismos são importantes e contribuem para o fitness dos insetos. Trabalhos anteriores demonstraram a contribuição da microbiota intestinal para a digestão de proteínas e desenvolvimento da lagarta da soja. Com isso, esse estudo tem como objetivo avaliar o efeito da microbiota intestinal sobre a sobrevivência e ciclo larval de A. gemmatalis em resposta a exposição de peptídeos inibidores de proteases tripsina-like, GORE2 e GORE1. Para os ensaios biológicos, foram utilizados 30 indivíduos por tratamento em seis tratamentos: controle (sem adição de tetraciclina ou inibidores de proteases); tetraciclina; inibidor de proteases GORE1; inibidor de proteases GORE2; tetraciclina + GORE1; tetraciclina + GORE2. A concentração de tetraciclina foi de 60µg/100g de dieta e dos peptídeos de 0.12% (p/p). As lagartas foram individualizadas em recipientes plásticos e alimentadas ad libitum com uma dieta artificial contendo seu respectivo tratamento. A sobrevivência foi avaliada diariamente observando as atividades locomotoras durante a troca de dieta. Na ausência de atividade, foi produzido um estímulo com um pincel de cerdas macias para observar se a lagarta respondia ao estímulo ou não. A duração do ciclo larval foi considerada do início do experimento (lagartas com 5 dias após a eclosão dos ovos) até pré-pupa. Os dados de sobrevivência foram submetidos ao estimador de Kaplan–Meier e as curvas obtidas para cada tratamento foram comparadas pelo teste de log-rank. O período larval foi submetido a análise de variância ANOVA, seguida de comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de significância. Os dados foram analisados utilizando o software GraphPad Prism 5.0. Para o ciclo larval (F=1,222, p<0,0001), houve diferença significativa entre os tratamentos. O ciclo larval dos insetos alimentados com a dieta controle foi de 12,90 ± 2,42 dias, enquanto para as lagartas expostas a tetraciclina foi de 10,10 ± 1,28 dias, mostrando menor período larval nas lagartas que tiveram sua microbiota desequilibrada pela exposição ao antibiótico. A análise de sobrevivência mostrou que lagartas de A. gemmatalis expostas aos peptídeos GORE1 e GORE2 com e sem desequilíbrio da microbiota intestinal apresentaram diferenças significativas (log-rank χ2 =10,49, p=0,03). A menor porcentagem de sobrevivência observada foi em lagartas alimentadas com dieta contendo o peptídeo GORE2 (46,6%). Com os resultados obtidos, podemos observar que os peptídeos foram capazes de afetar a sobrevivência das lagartas de A. gemmatalis, provavelmente devido ao comprometimento na atividade de proteases intestinais, afetando a sua digestão proteica. Análises complementares são necessárias para proporcionar melhor entendimento sobre a atividade inseticida dos peptídeos e seu uso no manejo integrado de pragas. |