Resumo |
A Mata Atlântica brasileira, bioma com grande biodiversidade e alto nível de endemismo, é altamente ameaçada de extinção em consequência de atividades antropogênicas. Dentre as espécies que compõem a fauna-chave desse bioma destacam-se os morcegos frugívoros. Esses animais desempenham papel crucial na dinâmica de florestas Neotropicais atuando como polinizadores e dispersores de inúmeras espécies de plantas. Além disso, se comportam como bioindicadores potenciais da presença de contaminantes como o chumbo. O chumbo é um metal pesado considerado um dos mais perigosos contaminantes ambientais da atualidade e concentrações relevantes deste metal já foram reportadas em áreas de Mata Atlântica. Dessa forma, morcegos podem estar sujeitos aos efeitos nocivos causados pela exposição a esse metal. O objetivo deste estudo foi avaliar as alterações teciduais hepáticas induzidas pela exposição subcrônica de acetato de chumbo (Pb) em Artibeus lituratus. Morcegos machos adultos da espécie Artibeus lituratus (n=16) foram coletados com o auxílio de rede de neblina em áreas de Mata Atlântica na região de Viçosa-MG. Inicialmente os animais foram aclimatados e posteriormente separados aleatoriamente em dois grupos. O grupo controle (CTL) recebeu injeção intraperitoneal de 0,7 mL de solução salina 0,9% e o grupo tratado (Pb) recebeu 0,7 mL de acetato de chumbo (20 mg/kg) por injeção intraperitoneal a cada sete dias. Após 21 dias, os animais foram eutanasiados e o fígado foi fixado em Karnovsky e submetido ao processamento histológico de inclusão em resina, seguido de microtomia. Posteriormente, os cortes nas lâminas foram corados com Hematoxilina e Eosina, seguidos de análises histopatológicas por meio de fotomicroscopia. Foi observado aumento da incidência de congestão vascular (CTL=0,65%; Pb=2,60%) e infiltrado inflamatório (CTL=2,01%; Pb=3,70%) nos animais do grupo Pb comparados com os do grupo CTL. O aumento da incidência dessas patologias indica que o tecido sofreu um processo inflamatório decorrente da exposição ao chumbo. Nesse processo, o tecido aumenta sua vascularização facilitando a chegada e a ação de células e fatores bioquímicos de defesa. Foi observado também aumento da incidência de degeneração (CTL=1,97%; Pb=10,19%) nos animais do grupo Pb comparado com os do grupo CTL . A degeneração trata-se de um processo patológico que lesa as células modificando sua morfologia, seu aumento pode indicar mudanças bioquímicas danosas à atividade hepatocítica. Em conclusão, o estudo mostra que os morcegos frugívoros expostos subcronicamente a 20 mg/kg de acetato de chumbo durante 21 dias, apresentaram um aumento de patologias hepáticas quando comparados aos morcegos do grupo controle. Mais estudos como análises hormonais e oxidativas são importantes para entender melhor como o chumbo pode afetar animais silvestres de grande relevância ambiental. |