Resumo |
Os campos rupestres ferruginosos (Cangas) apresentam grande biodiversidade vegetal, além de um alto grau de endemismo. Devido à composição do solo dessas áreas, é onde ocorre a extração do minério de ferro, sendo fortemente impactadas pela atividade de mineração, gerando a formação de pilhas de disposição de estéril (PDE). O estéril gerado na mineração apresenta características físico-químicas que dificultam a reintegração dessas pilhas ao ecossistema de forma sustentável e funcional. Além disso, as pilhas de estéril apresentam baixa disponibilidade hídrica, o que torna sua recuperação ainda mais difícil. Por isso, durante a escolha de espécies para a recuperação das áreas degradadas pela mineração, além de selecionar aquelas adaptadas aos baixos níveis nutricionais e excesso de metais, é importante selecionar também espécies tolerantes à dessecação. Muitas espécies de Velloziaceae se destacam por estratégias morfofisiológicas que às permitem tolerar estas condições adversas. Assim, o objetivo foi avaliar a tolerância à dessecação das espécies nativas da Canga, Vellozia caruncularis e Vellozia compacta, quando cultivadas em estéril de mineração de ferro. Para isso, foi conduzido um experimento em casa de vegetação na Universidade Federal de Viçosa - Campus Florestal (UFV-CAF) onde os indivíduos foram cultivados em solo de canga coletado na Serra da Calçada (Brumadinho-MG) ou em substrato de pilha de estéril e submetidos a duas condições sendo uma com irrigação e outra com suspensão da irrigação (estresse hídrico). As trocas gasosas foram monitoradas até que a fotossíntese das plantas sob estresse chegasse a zero e então foi realizada a reidratação, para análise da capacidade de recuperação após o estresse. Durante o período de máximo estresse e reidratação foram analisados o teor relativo de água na folha e extravasamento de eletrólitos. Ao final do experimento, foram relizadas análises morfológicas. Para as duas espécies, o nível máximo de estresse hídrico foi atingido 25 dias após a suspensão da irrigação e a reidratação foi acompanhada por mais 14 dias. A espécie V. caruncularis apresentou melhor desempenho após a reidratação em comparação a V. caruncularis. As plantas cultivadas em canga obtiveram melhores resultados nas análises durante todo o experimento comparado à PDE. Além disso, o impacto do estresse hídrico foi mais severo nas plantas sob PDE. Após a reidratação as plantas cultivadas em substrato de PDE voltaram aos parâmetros próximos aos encontrados inicialmente, o que mostra que as espécies não tiveram sua tolerância à dessecação afetada. Assim, V. compacta e V. caruncularis são espécies nativas de Canga, que demonstraram ser capazes de tolerar a baixa disponibilidade de nutrientes e a dessecação, mesmo quando cultivadas em substrato de PDE, sendo boas candidatas à recuperação de áreas degradadas pela mineração. |