Resumo |
O mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii Spix 1825) é um cracídeo endêmico da Mata Atlântica classificado pela IUCN como “em perigo”. Essa condição de ameaça se deve à redução do habitat da espécie, perda de qualidade dos remanescentes florestais com redução de recursos utilizados pelas aves, aumento das populações de predadores de ninhos e caça de lazer e de subsistência. Para contribuir com a conservação dessa espécie ameaçada, a Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra) criou, na década de 90, o Projeto Mutum. Nesse projeto, machos e fêmeas adultos da espécie foram reintroduzidos em fragmentos de Mata Atlântica na região do Médio Vale do Rio Doce. Com o objetivo de obter dados de história natural, como razão sexual e distribuição espacial dos mutuns reintroduzidos, foram amostrados cinco fragmentos de Mata Atlântica pertencentes à Cenibra entre maio de 2021 e outubro de 2022, utilizando 10 armadilhas fotográficas posicionadas a 50cm do chão e sem a presença de iscas. Durante os 18 meses de amostragem, foram obtidos 56 registros, em dois dos cinco fragmentos. Indivíduos solitários (machos e fêmeas) foram capturados com mais frequência do que em pares ou grupos. Machos solitários totalizaram 23 registros, fêmeas solitárias totalizaram 13 registros, casais totalizaram 12 registros, pares de fêmeas totalizaram 6 registros, um registro corresponde a uma mãe com um filhote e em um registro o número e sexo dos indivíduos não foi identificado. No presente estudo, as armadilhas fotográficas se mostraram úteis para a obtenção de dados da história natural do mutum-do-sudeste. Os dados mostram que a população reintroduzida tem ocupado apenas duas das cinco localidades amostradas. Nessas duas localidades, a espécie não foi registrada por todas as armadilhas fotográficas, mostrando que a espécie apresenta uma distribuição espacial restrita. Os pares formados por um macho e uma fêmea indicam que os mutuns-do-sudeste reintroduzidos sejam monogâmicos. O desbalanceamento da razão sexual pode explicar a monogamia registrada para a espécie na área de estudo. Porém, embora os registros das armadilhas fotográficas indiquem a monogamia na população estudada, registros ocasionais de poliginia foram feitos na área de estudo. Tanto a monogamia quanto a poliginia têm sido descritas para a espécie, e o desbalanceamento da razão sexual tem sido a hipótese explicativa para este comportamento. Este desbalanceamento foi encontrado no presente estudo, onde foram registrados mais machos solitários do que fêmeas solitárias. Deste modo, novas reintroduções do mutum-do-sudeste na RPPN Fazenda Macedônia devem priorizar a soltura de fêmeas, objetivando um balanceamento da razão sexual e o sucesso reprodutivo da espécie em vida livre. |