Resumo |
O milheto é composto por proteínas, fibra alimentar, compostos bioativos e minerais, como o ferro. Contudo, a presença de fitatos e polifenóis nessa matriz alimentar pode interferir na biodisponibilidade de minerais. A utilização de processamentos, como a germinação, pode melhorar a biodisponibilidade de nutrientes e agregar efeito funcional ao alimento. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do consumo de farinhas de milheto (Pennisetum glaucum (L.) R. Br.) convencional e germinada na biodisponibilidade de ferro em ratos Wistar. Inicialmente, foi realizada a caracterização (ácido fítico, compostos fenólicos e minerais) das farinhas de milheto convencional e germinado. Para avaliar a biodisponibilidade de ferro, foi utilizado o método de depleção/repleção de hemoglobina. A fase de depleção teve duração de 21 dias e os animais receberam dieta padrão (DP) modificada isenta de ferro, para a indução de anemia ferropriva. Para isso, os animais foram divididos em 3 grupos experimentais. O grupo controle recebeu DP + sulfato ferroso (n=8) e os grupos testes receberam DP + farinha de milheto convencional (FMC) (n=8) ou DP + farinha de milheto germinado FMG (n=8). Após isso, na fase de repleção, foram utilizados como fonte de ferro o sulfato ferroso e as farinhas de milheto convencional e germinada por 28 dias. Nessas duas fases, os animais foram monitorados quanto ao ganho de peso e consumo alimentar. No 50º dia, após jejum de 12 horas, os animais foram eutanasiados e o sangue foi coletado para análise da concentração de hemoglobina, ferritina e transferrina. Os resultados foram submetidos aos testes de normalidade de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov. Para análise dos compostos presentes nas farinhas de milheto aplicou-se o teste t de student e para o ensaio biológico, aplicou-se análise de variância one-way ANOVA, seguida pelo teste post-hoc de Newman-Keuls para as variáveis paramétricas e Kruskal-Wallis seguido de post-hoc de Dunn’s para as variáveis não-paramétricas, utilizando o software GraphPad Prism, versão 9.0., a 5% de significância. Na avaliação da concentração de ácido fítico e de compostos fenólicos totais, foi observada menor concentração de ácido fítico na farinha germinada se comparada a farinha convencional (p<0,05) enquanto que o conteúdo de compostos fenólicos totais não diferiram entre as farinhas (p>0,05). Na determinação da composição mineral, não foram observadas diferenças entre FMC e FMG para as concentrações de cálcio, magnésio, cobre, ferro, zinco e manganês (p>0,05), porém o conteúdo de fósforo e o potássio foi maior na FMC (p<0,05). O consumo alimentar, o ganho de peso e as concentrações de hemoglobina, ferritina e transferrina não diferiram entre os três grupos (p>0,05). Dessa forma, embora o processo de germinação seja capaz de reduzir o conteúdo de ácido fítico, não foi observado, in vivo, diferença entre o consumo de farinhas de milheto convencional e germinado na biodisponibilidade de ferro. |