Resumo |
O município de Vila Pavão está localizado no noroeste do Espírito Santo, distante 280km da capital Vitória. A formação do povoado se deu por volta da década de 1940. Franz Ramlow, migrante pomerano, é conhecido até os atuais dias como um dos pioneiros na formação da vila e importante articulador no seu processo de emancipação nos anos 1990. Sua casa, construída sob a arquitetura pomerana, serviu durante muitas décadas como um símbolo cultural, sendo utilizada como palco para muitos casamentos, cultos luteranos e também como abrigo para viajantes. No ano de 2004, em uma estratégia da Prefeitura Municipal de Vila Pavão junto ao então cônsul honorário da Alemanha no Espírito Santo, o casarão foi comprado e colocado em posse do governo municipal e, no ano seguinte, inaugurado como Museu Pomerano Franz Ramlow. Em 2015, porém, o imóvel foi interditado e suas visitas foram suspensas pela Defesa Civil, alegando problemas estruturais. Durante o período de 2015 até 2019 eram feitas faxinas e higienização constante. Contudo, após o período de isolamento desencadeado pela pandemia do COVID-19, o Museu foi totalmente deixado à mercê dos fenômenos climáticos e do perpassar dos meses. Inaugurado para tornar-se o maior símbolo cultural da cidade, encontra-se no ano de 2023 totalmente derrubado e sem expectativas de reconstrução. O principal objetivo desta pesquisa foi conhecer os debates políticos e intelectuais que concorreram para a criação do Museu Pomerano Franz Ramlow, assim como entender os motivos que levaram à sua rápida decadência e abandono. Para obter possíveis respostas, o projeto foi dividido em três partes, sendo elas: I) levantamento bibliográfico sobre cultura pomerana, musealização e processos de patrimonialização; II) pesquisa de campo; e por fim III) análise dos dados e exercícios de escrita. Durante a fase II foram realizadas entrevistas individuais e em grupo com pessoas pré-selecionadas, todas inseridas de alguma forma em contextos políticos, ativismo cultural ou pessoas que tiveram suas vidas atravessadas pela vida do Museu. Essas entrevistas foram conduzidas sob um roteiro de perguntas previamente enviadas aos interlocutores. A partir disto, os resultados obtidos foram um reflexo do cenário museológico nacional. Vila Pavão, assim como grande parte do Brasil, apenas atribui significância a seus patrimônios culturais em discursos, não em práticas. Na cidade, muito se fala em “cultura” e sua preservação, mas pouco se faz a respeito, seja no âmbito das políticas públicas ou mesmo da comunidade pomerana. A criação do museu dependeu da iniciativa individual de um professor, Jorge Kuster Jacob, descendente de pomerano, que uma vez ocupando o cargo de secretário de cultura do município conduziu todas as negociações para viabilizar o empreendimento. Uma vez que seu grupo político perdeu poder na cidade, o casarão pomerano se transformou em ruínas, um memorial ao descaso com o patrimônio cultural. |