Resumo |
A Restinga é um ecossistema costeiro que faz parte do bioma Mata Atlântica. São ambientes extremamente vulneráveis, pois fazem a transição entre as porções continental e marinha, sendo muito importantes para a manutenção de aquíferos e para a fixação das dunas. Apesar de sua importância, as restingas têm sido cada vez mais ameaçadas pelas ações antrópicas, como a perda de habitats, a ocupação humana, o descarte inadequado de lixo, o aquecimento global e o aumento do nível do mar. Dessa forma, estudar as diferentes interações que ocorrem nesses ecossistemas é muito importante para ajudar a traçar estratégias para a sua conservação. A herbivoria é uma interação que modula a diversidade de plantas presentes em um habitat, estando relacionada com toda a teia trófica. Para se protegerem da herbivoria, as plantas contam com defesas físicas e químicas, sendo fundamental entender como ocorre a alocação de recursos de defesas em plantas da restinga. Nesse sentido, nós investigamos qual o efeito da distância do mar nas interações e mecanismos de defesa em Pera glabrata (Peraceae), respondendo às seguintes perguntas: Existe diferença na quantidade de insetos herbívoros ao longo do gradiente mar-interior? Existe diferença na disponibilidade de nutrientes (sódio) ao longo do gradiente mar-interior? Indivíduos de Pera glabrata apresentam diferenças em seus mecanismos de defesa (físicos e químicos) ao longo do gradiente existente na restinga? O Parque Estadual de Itaúnas foi o local escolhido para o estudo, sendo que as coletas foram realizadas em 34 pontos (demarcados pela presença da espécie Pera glabrata) ao longo de duas trilhas do parque: a Trilha do Buraco do Bicho - próxima do mar, e a Trilha da Borboleta - distante do mar. O número de herbívoros presentes, a dureza foliar, o sódio foliar, os fenólicos totais e os taninos condensados foram as variáveis estudadas na espécie vegetal Pera glabrata, por serem fatores importantes que atuam nas interações e mecanismos de defesa das plantas. Realizamos uma análise de variância (ANOVA), que mostrou que todos os fatores pesquisados não variam no gradiente estudado, não havendo diferenças significativas ao longo da distância do oceano. Assim, a distância do mar não interfere em interações e mecanismos de defesa em Pera glabrata. Percebemos que provavelmente os herbívoros apresentam uma distribuição uniforme e se alimentam da planta ao longo de todo o gradiente. Concluímos que Pera glabrata é uma espécie que apresenta uma grande plasticidade e adaptação em lidar com variações nos teores de sódio foliar, e é uma planta capaz de manter suas defesas químicas e físicas contra a herbivoria constantes em meio às variações abióticas do ecossistema das restingas. |