Resumo |
A dor é um fator limitante na recuperação pós-operatória de animais, e sua identificação e correção precoces são essenciais para o bem-estar animal e a validade dos resultados da pesquisa. Sabe-se que indicadores fisiológicos, físicos e comportamentais podem ser utilizados para a avaliação da dor. Nesse contexto, as escalas de expressão facial são ferramentas adjuvantes promissoras, baseadas na avaliação do posicionamento facial (órbita, bochecha, narina, bigode e orelha), na qual cada parâmetro recebe pontuações de 0 a 2 de acordo com a intensidade da dor. Essas escalas são métodos não invasivos, replicáveis, de fácil execução e treinamento. Diante disso, neste estudo foi investigado o uso da escala de expressão facial como uma ferramenta adjuvante para avaliar a dor no pós-operatório da técnica de ureterotomia microcirúrgica em coelhos. O estudo foi aprovado pela CEUA-UFV sob o registro 03/2022. Para isso, foi executado um ensaio clínico randomizado com 31 coelhos hígidos da raça Nova Zelândia, com oito meses de idade, não castrados e peso de 3,65 kg ± 0,04, sendo 16 machos e 15 fêmeas. Os animais foram divididos em três grupos: controle (celiotomia mediana), longitudinal (ureterotomia microcirúrgica com sutura longitudinal) e transversal (ureterotomia microcirúrgica com sutura transversal). No pós-operatório, os animais receberam administração de tramadol (5 mg/kg a cada 12 horas por 2 dias), meloxicam (0,3 mg/kg a cada 24 horas por 2 dias) e dipirona (25 mg/kg a cada 12 horas por 5 dias), todos por via subcutânea. Ainda nesse período, os animais foram observados diariamente por cinco dias utilizando a escala de expressão facial para coelhos, além de avaliações clínicas e comportamentais. Os resultados dos scores de dor foram agrupados em categorias: ausente (0), discreta (1-3), moderada (4-7) e grave (7-10). Os dados foram analisados pelo teste de Freeman-Halton sendo adotado um nível de significância de P < 0,05. Observou-se que a avaliação da dor pela escala de expressão facial foi eficaz na identificação da dor e corroborou com outros parâmetros comportamentais avaliados, como mudanças na postura, redução na alimentação ou defecação, redução das atividades e rigidez abdominal. Não foram verificadas diferenças significativas nos scores de dor entre os grupos. Foi verificada uma tendência de redução gradativa no score de dor ao longo do período de avaliação, com exceção do quarto dia, no qual houve um aumento no score, um quadro que foi revertido com a reintrodução do tramadol. Deste modo, conclui-se que o uso da escala de expressão facial é simples, não invasivo e consistente para avaliar a dor no pós-operatório de coelhos submetidos à técnica de ureterotomia microcirúrgica. Esse método permitiu ajustes adequados na analgesia, promovendo o bem-estar animal durante o período pós-operatório e mostrou-se de acordo com os princípios dos 3R’s (redução, substituição e refinamento) da pesquisa e frente a isso, o seu uso deve ser estimulado. |