Resumo |
A internacionalização do ensino superior brasileiro tem ganhado predominância nos últimos anos, com a implementação de programas como o extinto Ciências Sem Fronteiras, e seu sucessor Programa Institucional de Internacionalização (Capes-PrInt). A internacionalização torna-se métrica de excelência e qualidade na produção científica nacional: a avaliação da pós-graduação da Capes atribui maior nota aos programas que mantêm conexões internacionais. Instituído em 2017, o Capes-PrInt busca construir redes e parcerias entre universidades brasileiras e estrangeiras para fortalecimento institucional da internacionalização. Em termos formais, internacionalização refere-se a expressões de cooperação mútua na produção de conhecimentos científicos entre instituições. Noutra perspectiva, nossa pesquisa entende por internacionalização a manutenção de hierarquizações na legitimidade e circulação do conhecimento científico entre centro e periferia. Mais do que abertura de acesso à tecnologia e recursos, no contexto Brasileiro escassos, internacionalizar implica em aprender com os países centrais. Na linha dos estudos sociais da ciência e tecnologia (ESCT), esta pesquisa objetiva entender se o Capes-PrInt distancia-se ou não da internacionalização hierarquizada, entendendo os valores que norteiam o programa. Nossa pesquisa debruçou-se sobre cinco casos de universidades inscritas no PrInt (UFV, UFSC, UFC, USP e UNB). Os critérios de escolha foram: importância regional da universidade; disponibilidade de dados institucionais sobre o programa para coleta; número e diversidade de eixos temáticos e projetos para internacionalização; abertura de reitores, gestores e técnicos a participar de entrevistas. Coleta de relatórios técnicos, editais, manuais, portarias, projetos de internacionalização e depoimentos orais concedidos mediante entrevistas compõem as instâncias empíricas da pesquisa. Utilizamos o software Nvivo para organização e categorização dos dados qualitativos. Feita a análise das documentações e entrevistas, percebe-se que o Capes-PrInt mantém tendências de periferização em relação às universidades e grupos de pesquisa centrais, constatado na mobilidade assimétrica: envia-se mais professores e alunos para o exterior do que se recebe estrangeiros no Brasil. Além disso, nota-se baixa diversidade de vínculos universitários, reafirmando o Norte global como destino padrão (EUA, Espanha, França e Reino Unido). Nas entrevistas com atores do PrInt, afirma-se recorrentemente a cooperação internacional, mas o conteúdo das falas centram-se mais no envio do que no recebimento de estudantes, denotando a periferização da ciência. Por fim, observa-se um movimento duplo de dominação e subordinação: de um lado, a inserção acadêmica brasileira no exterior é periférica, do outro percebe-se a utilização da internacionalização como mecanismo que cria e reproduz desigualdades internas à ciência nacional. |