Resumo |
O cenário global atual é de aumento progressivo da fome e da insegurança alimentar, impulsionado pelas mudanças climáticas, pela pandemia da Covid-19 e pelos conflitos bélicos, e que impacta, especialmente, grupos sociais mais vulneráveis. As cooperativas emergem nesse contexto como alternativa para a governança de sistemas alimentares sustentáveis (SAS) e como meio para impulsionar o protagonismo da agricultura familiar, segmento mais vulnerável no interior do sistema alimentar. Portanto, foi objetivo desta pesquisa descrever características do setor cooperativo e evidenciar o potencial e as contribuições de cooperativas agrícolas na promoção de sistemas alimentares sustentáveis e resilientes na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tomando como casos os seguintes países: Brasil, Guiné Bissau, Portugal e São Tomé e Príncipe. Esta pesquisa, de abordagem qualitativa, foi conduzida em 2022 por meio de entrevistas a representantes de organizações do setor cooperativo nacional ou de apoio e assessoria a cooperativas e dirigentes de cooperativas agrícolas dos quatro países, totalizando 12 entrevistas. Posteriormente procedeu-se com o tratamento das informações. Para isso, utilizou-se como técnica a análise de conteúdo. Os resultados indicaram que Brasil e Portugal possuem sistemas cooperativos nacionais institucionalizados, que promovem programas e ações para o desenvolvimento do setor e das organizações cooperativas, e contam com diferentes estruturas de integração de cooperativas. Já em São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau, identificou-se um ambiente institucional e regulatório frágil e inseguro para as cooperativas, sem legislação específica e tratamento adequado à realidade dessas organizações. Apesar dos desafios, os casos de cooperativas analisadas apontam como estas organizações são fundamentais para seu quadro social e para as comunidades locais. Elas realizam apoio social e cultural, inclusive suprindo ausências do Estado e cobrindo despesas médico-hospitalares, auxílio funeral e outras necessidades básicas e de urgência de seus cooperados(as). No âmbito econômico produtivo, as cooperativas contribuem com a oferta de uma gama variada de serviços técnicos e tecnologias aos cooperados(as). Em termos ambientais, as cooperativas estão empreendendo ações e projetos para promover agricultura sustentável e diversificada, ampliar as fontes de energia renovável, recuperar áreas degradadas e mitigar efeitos das mudanças climáticas sobre os sistemas produtivos dos(as) cooperados(as). A conclusão é que o setor cooperativo e as cooperativas, em especial aquelas formadas e dirigidas por agricultores(as) familiares, têm assumido papel de agentes do desenvolvimento sustentável e contribuído para tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis e resilientes e, por isso, deveriam ser consideradas na agenda política da CPLP e apoiadas por ações e investimentos da cooperação internacional nos países de língua portuguesa. |