Resumo |
Embora a saúde seja um direito fundamental garantido pela Constituição Federal de 1988, assegurar a universalidade de acesso tem sido um dos desafios do Sistema Único de Saúde (SUS). Ademais, estudos vêm apontando que as populações rurais possuem necessidades específicas no que diz respeito à saúde, principalmente se comparada às áreas urbanas. Com o intuito suprimir as lacunas deixadas pelo Estado, os grupos sociais se organizam para exercer o cuidado em saúde considerando suas particularidades. Nesse sentido, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) construiu o setor de saúde voltado para o cuidado coletivo e a comunicação contextualizada de informações sobre a prevenção e os tratamentos de doenças, tendo em vista a emancipação dos assentados rurais. As mulheres assentadas, público-alvo deste estudo, são entrelaçadas por diferentes marcadores sociais e, devido às relações sociais de sexos, são vinculadas ao papel de cuidadora dos membros da família e da comunidade. A feminização do cuidado não só aumenta a carga de trabalho, como induz a mulher a abdicar de sua vida em função do outro. Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar como e se as ações no campo da saúde desenvolvidas pelas mulheres assentadas do Setor de Saúde do Assentamento Denis Gonçalves contribuem para ressignificação da naturalização do cuidado em um movimento de valoração, como forma de reestruturar as relações de poder entre os gêneros. Esse estudo executa a combinação das metodologias: pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo. Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo, que foi realizada junto às mulheres do Setor de Saúde do assentamento Denis Gonçalves, organizado pelo MST. As assentadas foram identificadas por meio da metodologia bola de neve, escolheu-se uma informante e a partir dessa, novas entrevistadas foram selecionadas. Os resultados apontam que as mulheres foram protagonistas na criação do setor de saúde, que surgiu devido as necessidade de higienização dos primeiros acampamentos e da carência de atendimento no momento do confronto pela terra. É comum as assentadas tomarem a linha de frente em diversos setores, demonstrando a autonomia juntamente à um processo de emancipação. As entrevistadas reconhecem que o patriarcado relegam as mulheres ao cuidado, mas existe um movimento de ressignificação e valorização das cuidadoras quando são denominadas mulheres bruxas. O setor de saúde é composto por homens e mulheres, que desenvolvem ações e cursos que resgatam os conhecimentos sobre as plantas, atrelado, também, aos saberes da ciência reforçando o conceito ampliado de saúde. Assim, as mulheres assentadas desenvolvem práticas de cura e de cuidado que articulam os saberes populares e da tradição às lutas pelo direito à saúde das populações do campo. |