Resumo |
Em novembro de 2015, a região da bacia do Rio Doce tornou-se foco do governo e da mídia, quando o rompimento da barragem de rejeito de mineração de Fundão em Mariana liberou mais de 60 milhões de m³ de rejeito de mineração, alcançando centenas de quilômetros ao longo do Rio Doce, entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Após esse rompimento a área passou a necessitar de um monitoramento constante dos ecossistemas aquáticos, essa avaliação periódica da qualidade da água de ambientes lóticos é uma ferramenta fundamental na gestão e monitoramento de recursos hídricos. Nesse contexto, a ordem Ephemeroptera, grupo de insetos cujos imaturos vivem na água e os adultos são aéreos, são amplamente utilizados nesse monitoramento de qualidade de água. Sua ampla utilização ocorre pelo fato de que muitas espécies são sensíveis às alterações ambientais e por também fornecerem diferentes respostas a respeito da degradação ambiental. A imensa maioria dos estudos de avaliação de impacto ambiental utiliza os indivíduos na fase aquática. No entanto, em áreas com regimes de chuvas frequentes e intensas, como a zona tropical, e em ambientes amplos, como grandes rios e lagos, a coleta de imaturos torna-se dificultada. Uma alternativa a essa metodologia, é a coleta dos indivíduos adultos. Além da facilidade de coleta a partir do uso de armadilhas luminosas, os adultos, ao contrário dos imaturos, podem ser identificados em nível de espécie. O objetivo deste trabalho é investigar se os adultos de Ephemeroptera são tão eficientes quanto os imaturos na avaliação dos impactos antrópicos. Foram realizadas coletas em 16 pontos ao longo da bacia do Rio Doce, utilizando armadilha luminosa para coletar os adultos e rede D para a coleta dos imaturos. A amostragem foi realizada em janeiro de 2022, também foram coletados dados referentes às características físico-químicas da água, uso do solo e foi realizado um Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats. Foi encontrado um total de 9184 indivíduos adultos, pertencentes a 6 famílias e 28 gêneros, distribuídos ao longo dos 16 pontos amostrais. Já no caso dos imaturos, foi encontrado um total de 813 indivíduos, pertencentes a 5 famílias e 17 gêneros, também distribuídos ao longo dos 16 pontos. A partir das análises, concluiu-se que certos parâmetros, como a presença de rejeitos e qualidade do habitat, apresentaram resposta apenas para os indivíduos adultos, enquanto outros parâmetros, como pH, oxigênio dissolvido e uso do solo, apresentaram resposta apenas nos indivíduos imaturos. Isso indica que adultos e imaturos de Ephemeroptera respondem de maneira diferente aos impactos antrópicos avaliados. A composição de gêneros também variou entre adultos e imaturos. Dessa forma, a partir deste estudo, conclui-se que os dois estágios desempenham papéis complementares como metodologias de avaliação dos impactos antrópicos. |