Resumo |
Gustave Flaubert, em sua obra epistolar, dedica grande atenção a reflexões de cunho teórico e crítico sobre sua escrita ficcional. O valor intrínseco de sua correspondência reside mais na produção dessas reflexões do que no testemunho de uma vida passada ao ritmo de acontecimentos biográficos. O escritor, curiosamente, não redigiu textos teóricos e críticos propriamente ditos, tendo-se dedicado integralmente à escrita ficcional e epistolar. Inúmeras de suas cartas apontam menos a convivência social, priorizando, como mais significativa, a convivência do romancista com sua própria obra. Desse modo, na correspondência, a literatura é a grande protagonista, e a forma poética é passada pelo crivo de um escritor extremamente devotado à perfeição do estilo. O objetivo geral desta pesquisa é verificar a predominância da preocupação formal da escrita romanesca de Gustave Flaubert por meio da análise da obra epistolar do escritor. Pretende-se, posteriormente, mostrar em que sentido a correspondência flaubertiana faria suplência a uma reflexão teórica propriamente dita. O quadro teórico compõe-se de Mario Vargas Llosa, que salienta a preponderância do formalismo de Flaubert sobre o “nível retórico ou filosófico da realidade fictícia”. O corpus constitui-se de 03 cartas, endereçadas a Louise Colet, datando de 16 de janeiro de 1852, 15-16 de maio de 1852 e 25-26 de junho de 1853. O método empregado consiste na detecção e extração de fragmentos reveladores de reflexão crítica. Posteriormente, passa-se à análise qualitativa dos dados, empregando-se o quadro teórico especificador do formalismo de Flaubert. Os resultados parciais apontam que, na correspondência analisada, o leitor pode acessar considerações e explanações críticas que permitem penetrar o pensamento estético do escritor, bem como perceber que ele se insere na tradição da escrita formalista. Conclui-se, assim, que o estudo da obra epistolar de Flaubert se revela não apenas como um meio de conhecimento de sua concepção literária, mas também como relevante aporte teórico sobre a literatura defensora da primazia do significante sobre o significado, ou seja, da forma sobre o conteúdo. |