Resumo |
Introdução: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) possui etiologia multifatorial e fisiopatologia pouco conhecida, com evidências preliminares de alterações hormonais, neurotróficas, inflamatórias e oxidativas. Os estimulantes são a primeira linha de tratamento com evidências iniciais e controversas de interferir no estresse oxidativo. Objetivos: Avaliar marcadores antioxidantes em crianças com TDAH antes e após tratamento com metilfenidato. Metodologia: O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFV (nº 4.364.744) e o protocolo de estudo foi registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos. Após a assinatura dos termos de Consentimento Livre e Esclarecido e de Assentimento pelos responsáveis legais e pelas crianças respectivamente, iniciou-se um estudo de coorte aberta prospectivo realizado na Unidade de Atenção Especializada em Saúde (UFV). Foram incluídas 62 crianças (6 a 14 anos), de ambos os sexos, virgens de tratamento, sem comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas, com critérios diagnósticos de TDAH pelo DSM-5, diagnóstico feito por entrevista semiestruturada, seguida por avaliação psiquiátrica. Foram coletadas amostras de sangue venoso em jejum de 12 horas em 3 momentos: inicial, após 12 e 24 semanas de tratamento com metilfenidato. A quantificação sérica dos marcadores antioxidantes foi realizada por espectrofotometria, avaliando-se a capacidade antioxidante total não enzimática (FRAP - Ferric Reducing Antioxidant Power), e enzimática (Atividade da Catalase, da Superóxido Dismutase e da Glutationa-S-transferase) Foi realizado teste estatístico paramétrico de Tukey para comparações múltiplas utilizando o Programa GraphPad Prism 7.0 (GraphPad Software, Inc. San Diego, CA, EUA), considerando significância estatística com p<0,05. Resultados: O estado antioxidante total (FRAP) não apresentou diferença significativa ao longo das 24 semanas de uso de metilfenidato. A atividade da catalase (CAT) após 24 semanas de tratamento com metilfenidato foi significativamente maior em relação ao tempo inicial e a 12 semanas de tratamento. A atividade da Superóxido Dismutase (SOD) apresentou valores significativamente menores após 12 semanas de tratamento em relação ao tempo inicial e após 24 semanas de tratamento. Por fim, os níveis de Glutationa-S-Transferase foram indetectáveis nos três pontos avaliados. Conclusões: Nosso estudo não detectou alterações no estado antioxidante total (FRAP) após uso de metilfenidato. Porém, observou-se significativa redução do nível de atividade da SOD após 12 semanas de metilfenidato, podendo representar consumo excessivo de defesas antioxidantes, retornando aos níveis do tempo inicial após 24 semanas de tratamento, sugerindo mecanismos compensatórios do organismo para restabelecer a homeostase redox. O aumento significativo da CAT após 24 semanas de uso de metilfenidato coincide com a restauração dos níveis de atividade da SOD que é responsável por produzir substrato para a enzima catalase. |