Resumo |
Introdução: Estudos epidemiológicos demonstraram que a má qualidade do sono está associada a comorbidades como obesidade e pode se associar à inflamação e ao consumo de Produtos Finais de Glicação Avançada (AGEs). Os AGEs são substâncias geradas pela reação de açúcares redutores com grupos amino de proteínas, lipídios e receptores nucleicos. Em uma meta-análise, pacientes com distúrbios de sono, como a apnéia e hipopnéia obstrutiva do sono, apresentaram maiores concentrações séricas de AGEs do que indivíduos saudáveis. Entretanto, ainda é desconhecida a relação entre o consumo de AGEs e a qualidade do sono em indivíduos com excesso de gordura corporal. Objetivos: Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito do consumo de AGEs na qualidade do sono, em variáveis antropométricas e bioquímicas em mulheres com excesso de gordura corporal, bem como correlacionar essas variáveis. Metodologia: Trata-se de uma análise transversal de um ensaio clínico randomizado, realizado com dados do baseline de 40 mulheres, com 20 a 40 anos de idade, índice de massa corporal (IMC) entre 26 a 34,9 kg/m² e excesso de gordura corporal (> 30%). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal de Viçosa (número do protocolo: 892.467/2014). Foram analisados dados bioquímicos, medidas antropométricas, dados referentes ao tempo de tela (horas e minutos) e idade. A ingestão de AGEs (dAGEs) foi estimada utilizando o Questionário de frequência alimentar validado para a população brasileira. O Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI) foi usado para avaliar a qualidade do sono (0-1: boa, 5-10: ruim, > 11: distúrbio). O consumo de AGEs foi dividido em: (1) menor ou (2) maior ou igual à mediana dos dAGE. Foram realizados testes qui-quadrado, correlações e teste t Student. Resultados: A maioria das participantes (57,5%) apresentou qualidade do sono ruim (valores médios de PSQI: 6 ± 3 pontos). Apenas 5% apresentou algum distúrbio do sono. O consumo mediano de dAGE foi de 16.777 kU/dia (IQ:11.165-21.730 kU/dia). Não houve associação significante entre a qualidade do sono e dAGE. Além disso, participantes que consumiram alto teor de dAGE (>16.777kU/dia) apresentaram perfil similar de idade, IMC, perímetro abdominal, glicemia, HOMA-IR, colesterol total e frações, triglicerídeos e tempo de tela, quando comparadas às que consumiram menor teor de dAGE (<16.777 kU/dia). Conclusão: Apesar do alto consumo de dAGE, não foi observada relação significante entre essa variável e a qualidade do sono, variáveis bioquímicas e antropométricas. Futuros estudos longitudinais com maior tamanho amostral são necessários para testar a possível associação entre o consumo de AGEs e a qualidade do sono. |