Resumo |
A administração de propofol em cães tem sido associada a diversas reações, dentre elas as neuroexcitatórias. A distonia é uma reação caracterizada por espasmos involuntários e contrações arrítmicas sustentadas nos músculos dos membros torácicos. Esse relato de caso descreve a ocorrência de distonia associada ao propofol em uma cadela anestesiada para ovariohisterectomia eletiva. Uma cadela hígida, SRD, de 2 anos, pesando 10,8 kg, participante de um projeto de pesquisa no Hospital Veterinário de pequenos animais da Universidade Federal de Viçosa, foi submetida a anestesia geral com propofol. Durante a indução anestésica administrou-se 60 mg de propofol, já nesse momento a paciente apresentou movimentos excitatórios, caracterizado por tremor generalizado, pedalagem e espasmos faciais, permanecendo com essas alterações durante todo o período transcirúrgico. Durante a manutenção da anestesia manteve-se o propofol em infusão contínua na taxa média de 0,47 mg/kg/min administrados durante 70 minutos. Após a interrupção de sua administração, foi permitido à paciente recuperar da anestesia. Entretanto, 5 minutos após, a cadela ainda inconsciente apresentou posição de opistótono, com severa extensão dos membros torácicos, com contração da musculatura dos membros pélvicos e região cervical. Tais alterações mantiveram-se por 40 minutos após a extubação, com a ocorrência de um episódio de êmese nesse tempo. Passado, a cadela demonstrou-se alerta e responsiva, se locomovendo com discreta ataxia e importante tremor, que se mantiveram pelas 12 horas que a paciente foi avaliada. Apesar das alterações neuromusculares, a cadela permaneceu com todos os parâmetros fisiológicos dentro da normalidade durante todo o período perioperatório. O restante da recuperação transcorreu sem intercorrências e a cadela foi liberada para seu dono. Com base nos sinais clínicos e na ocorrência do distúrbio muscular observado, foi feito um diagnóstico presuntivo de distonia associada ao propofol. Acredita-se que o equilíbrio entre os receptores inibitórios de dopamina e os receptores colinérgicos excitatórios nos gânglios da base, controle a coordenação neuromuscular. Assim, supõe-se que o propofol cause um desequilíbrio nos transmissores dos gânglios da base, produzindo um aumento na produção colinérgica excitatória, causando a distonia. Existem diversos trabalhos descrevendo a distonia associada ao propofol em humanos, entretanto em cães os estudos são limitados, e não abordam somente a distonia, mas as alterações neuroexcitatórias em geral. Não se sabe assim se a distonia é uma ocorrência rara, ou pouco relatada. No entanto, os médicos veterinários devem estar cientes de que a administração de propofol pode estar associada a eventos neuroexcitatórios, como a distonia. |