Resumo |
O aumento da produção agrícola é acompanhado pelo uso de diferentes tecnologias com destaque para os herbicidas. O herbicida mais utilizado no Brasil e em escala global é o glifosato, um herbicida sistêmico não seletivo. Devido ao manejo inadequado e uso incorreto, parte desse herbicida pode atingir áreas não alvo e impactar negativamente a vegetação nativa. No entanto, há poucos estudos abordando os efeitos deste herbicida em espécies arbóreas de florestas tropicais em especial sobre o impacto no sistema radicular. O objetivo neste estudo foi avaliar o efeito do glifosato, em diferentes doses, na morfologia e anatomia do sistema radicular de J. princeps e seus impactos no desenvolvimento desta espécie. Adicionalmente, buscamos identificar possíveis biomarcadores morfoanatômicos úteis para o biomonitoramento deste herbicida no ambiente. Mudas de J. princeps com três meses de idade (n=4) foram cultivadas em casa de vegetação e submetidas a aplicação na porção área do herbicida glifosato (RoundUp Original® DI) nas concentrações de 0, 180, 360, 720 e 1440 g.ia.ha-1. Durante a aplicação, o solo foi isolado com uma camada de papel alumínio garantindo a aplicação somente na porção aérea das plantas. Após 12 dias da aplicação, amostras de ápice radicular foram coletadas e submetidas a análise de morte celular in situ com Azul de Evans, avaliação de peroxidação lipídica com reagente de Schiff e avaliação morfológica em lupa estereoscópica. Parte das amostras foram fixadas, incluídas em historesina, seccionadas em micrótomo e coradas com Azul de toluidina. A exposição ao glifosato promoveu redução visual na densidade do sistema radicular de J. princeps em todas as doses avaliados. Houve reação positiva para morte celular e peroxidação lipídica. Estruturalmente, ocorreram danos celulares incluindo colapso celular, acúmulo de compostos fenólicos, alterações na morfologia dos tecidos de condução, retração do protoplasto, além de redução visual na zona de diferenciação celular. Os danos foram mais intensos nas duas maiores doses do herbicida onde foram identificadas também a proliferação de hifas fúngicas. Em conclusão, a aplicação do glifosato em J. princeps promoveu danos no sistema radicular incluindo alterações visuais, morte celular e peroxidação lipídica além de alterações estruturais. Estas alterações podem ser possíveis biomarcadores de danos pelo glifosato nesta espécie e ajudam a compreender melhor os danos globais promovidos pelo glifosato em plantas não alvo. |