Resumo |
A cultura do café é sensível às variações ambientais e mais recentemente tem sido classificada como potencialmente vulnerável às mudanças climáticas globais em curso. As emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente relacionadas à queima de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra, têm resultado em um crescente aumento na concentração atmosférica de CO2. Este trabalho visou avaliar diferentes combinações de disponibilidade de luz e CO2 e como isso impactaria a performance fotossintética e o ganho de biomassa do cafeeiro, via ajustes na sua arquitetura hidráulica. Hipotetizou-se que tais ajustes seriam mais contundentes em plantas sob alta irradiância, em função da sua maior demanda hídrica a pleno sol. As plantas de café foram cultivadas em vasos de 12 L em câmaras de topo aberto, dispostas em casa de vegetação. As plantas foram submetidas a duas concentrações de CO2: ambiente (ca. 457 ppm) ou elevada (ca. 704 ppm) e dois níveis de luz: alta luminosidade (ca. 9 mol de fótons m-2 dia-1) e baixa luminosidade, i.e., restrição de 89% da luz (ca. 1 mol de fótons m-2 dia-1). Indivíduos de ca. 12 meses foram utilizados para a avaliação de trocas gasosas, parâmetros hidráulicos e anatômicos e status hídrico. A fertilização com CO2 e a maior disponibilidade de luz aumentaram o ganho de biomassa e a taxa de assimilação líquida de CO2 (A), e esses incrementos foram afetados pela interação entre os fatores CO2 e luz, com efeitos (aumentos) mais marcantes nas plantas ao sol. Em adição, verificou-se maior condutância estomática nas plantas ao sol sob eCa, o que foi associado a ajustes hidráulicos e morfológicos em nível de folha e de planta inteira, coordenados com o maior desenvolvimento do sistema radicular associado a uma maior capacidade de transporte de água para a parte aérea; em conjunto, tais ajustes devem ter contribuído para um melhor balanço hídrico, explicando pelo menos em parte os incrementos observados em A e no acúmulo de biomassa, especialmente nas plantas ao sol sob eCa. Além disso, essas plantas exibiram menor temperatura, tanto em nível foliar quanto de planta inteira em relação às suas contrapartes sob concentração ambiente de CO2. As plantas ao sol sob eCa também exibiram valores mais negativos de potencial osmótico no ponto de perda de turgescência, o que permitiria ao xilema operar sob menor risco de colapso do sistema hidráulico. Como um todo, os resultados têm inegável importância para aumentar a sustentabilidade e a resiliência do setor cafeeiro num cenário de mudanças climáticas, especialmente com a maior frequência esperada de eventos de secas e ondas de calor. Nesse contexto, eCa poderia reduzir a importância do sombreamento como uma estratégia de manejo visando à redução dos impactos das mudanças climáticas sobre a produção do cafeeiro. |