Resumo |
A intersexualidade é considerada uma alteração no desenvolvimento das características do aparelho reprodutor, onde os termos hermafroditismo ou intersexo são utilizados para definir animais que apresentem características sexuais ambíguas, oriundas de anomalias congênitas. Esse trabalho tem por objetivo relatar um caso de intersexo em equino, bem como, descobrir os parâmetros genéticos e anatomopatológicos associados as más formações encontradas neste animal. O caso ocorreu em meados de 2015, após a realização de um parto distócico e nascimento de uma potra, sem raça definida, onde, na primeira avaliação foi possível constatar que sua vulva se encontrava na região inguinal muito próxima da glândula mamaria, identificando somente o mal posicionamento do órgão, sem qualquer relação com má formação. Quando o animal atingiu um ano de idade, a genitália feminina passou a regredir e um órgão semelhante ao pênis se desenvolveu, além da expressão de comportamentos mais masculinizados. As análises experimentais iniciaram quando o animal atingiu três anos e meio de idade, em dezembro de 2018. Durante a inspeção observou-se que o animal apresentava conformação de fêmea, representada pela glândula mamaria bem desenvolvida. Todavia, possuía uma estrutura similar ao pênis com patologia hipospadia (deformação congênita das vias urinárias, na qual a abertura da uretra se encontra na face inferior ou ventral do pênis). Apesar da existência da genitália masculina, o órgão não apresentava funcionalidade devido à falta de ereção. Também não foi identificado libido sexual, nem desejo de monta ao expor o animal a uma fêmea em cio. No ano seguinte (2019), o animal veio a óbito por causas naturais, o que tornou possível a realização de avaliações mais detalhadas do caso. Dentro da cavidade pélvica foi observado duas estruturas semelhantes aos testículos, um mau formado e outro em degeneração. Ao abrir a estrutura tubular semelhante a um útero lateral ao corpo do pênis, identificou-se luz semelhante ao canal uterino, porém com uma massa que aparentemente poderia ser um terceiro testículo ou um ovário. Crina e cauda foram enviadas para análise genética, onde concluiu-se que o animal possuía apenas 63 cromossomos, sendo o cromossomo X desacompanhado de par, configurando uma situação de mutação cromossômica numérica de monossomia, caracterizando a Síndrome de Turner equina. Contudo, o teste citogenético de fragmento do testículo não pôde ser testado para confirmação do DNA e de um possível quimerismo. O que poderia sugerir que este equino fosse um hermafrodita verdadeiro com Síndrome de Turner ou até mesmo portador de quimerismo apresentando células derivadas de mais de um zigoto. |