Resumo |
O litoral brasileiro pode ser considerado um dos locais de maior relevância para as pesquisas de Cheloniidae, uma vez que comporta importantes sítios de alimentação, reprodução e nidificação para cinco das sete espécies de tartarugas marinhas viventes. As espécies são identificadas pela observação de caracteres externos do casco, da cabeça e das nadadeiras, tendo em vista que alguns desses caracteres apresentam combinações diagnósticas. Porém, há variações fenotípicas relatadas na literatura que dificultam a identificação das espécies, levando a falhas nos planos de conservação. Portanto, a análise e descrição morfológica das variações nas características diagnósticas se torna fundamental para a compreensão da natureza das disparidades fenotípicas observadas. Neste trabalho, 226 espécimes de Cheloniidae foram descritos quanto às variações observadas no número de escudos laterais, supracaudais e vertebrais da carapaça e inframarginais do plastrão. Toda a amostra foi coletada na praia de Guriri, São Mateus-ES nos anos de 2016 e 2017 e tombada na coleção científica do Departamento de Biologia Animal. As características diagnósticas para as espécies Caretta caretta (n=87), Lepidochelys olivacea (n=15) e Eretimochelys imbricata (n=1) foram observadas em aproximadamente 45,6% da amostra. O restante da amostra (123 espécimes) apresenta disparidade fenotípica, não podendo ser identificado com exatidão em uma das três espécies supracitadas. Foram identificados nove morfótipos anômalos de acordo com a combinação das características observadas. Constatou-se que 52% dos indivíduos apresentaram variações no número de escudos vertebrais, 15,5% no número de escudos inframarginais, 19,5% no número de escudos inframarginais e vertebrais, 4,1% no número de escudos laterais, 5,7% nos escudos laterais e vertebrais, 2,4% nos escudos laterais e inframarginais. Apenas 0,8% da amostra apresentou variação nos três conjuntos de escudos analisados e não foi observada variação nos escudos supracaudais, demonstrando que a maior parte da variação é sutil e compatível com plasticidade fenotípica em nível específico. Esses dados indicam que existem diferenças claras na morfologia das três espécies estudadas, mas também evidenciam uma ampla variação fenotípica, principalmente no conjunto de escudos vertebrais do casco, sugerindo a existência de fatores que comprometem a morfologia durante o desenvolvimento embriológico. Os fatores que causaram as variações observadas ainda são desconhecidos, porém as hipóteses mais plausíveis são (1) fatores abióticos interferindo no ninho – como temperatura, umidade, e porosidade do sedimento, ou (2) hibridização, já que híbridos podem apresentar mescla de fenótipos das espécies parentais. Estudos com o objetivo de testar estas hipóteses estão em andamento em projetos de Iniciação Científica e pós-graduação. |