Resumo |
A sociedade contemporânea, marcada pela transitoriedade, necessita cada vez mais de espaços flexíveis e aptos a adaptar-se a programas e necessidades efêmeros, exigindo da arquitetura uma necessária revisão. Sob essa perspectiva, o arquiteto e professor colombiano Giancarlo Mazzanti propõe a revisão das ferramentas próprias da arquitetura, buscando incorporar em seu processo de projeto metodologias pertencentes a outros campos do conhecimento como a Etnografia, a Grounded Theory e o Design Thinking. Seu intuito é viabilizar a participação comunitária e a cocriação de espaços a partir do contato e da interação entre os diversos atores envolvidos no processo de projeto. Tal experiência foi narrada no livro “Jugando con anomalías: ejercicios lúdicos para la co-creación del espacio”, que apresenta o resultado de um Workshop Experimental de Projeto realizado com estudantes da Universidade de Columbia em 2017. O principal objetivo desta pesquisa foi compreender as bases teóricas e conceituais utilizadas para fundamentar o ensino dos processos de projeto propostos por Mazzanti neste livro, além de analisar de que forma as referências metodológicas citadas acima foram incorporadas aos exercícios realizados e apresentados pelos estudantes. Inicialmente buscou-se aprofundar o conhecimento dessas metodologias a partir da leitura de seus autores e das obras de referência. Uma vez compreendidos os conceitos, passamos à etapa de investigação acerca da aplicação das metodologias nos exercícios projetuais. Dois projetos foram selecionados e analisados de forma aprofundada. Além disso, buscamos ampliar as referências a fim de encontrar outras experiências que também relacionam as metodologias citadas à pratica e ao ensino da arquitetura. Das três metodologias estudadas, identificou-se que a Grounded Theory, apesar de menos utilizada no universo da arquitetura, apresenta-se como valioso recurso para obter diretrizes teóricas e matrizes conceituais que orientem o processo projeto de forma intimamente atrelada ao contexto. O Design Thinking, por ser uma metodologia já utilizada no campo do design, possui mais aplicações e tem sido muito utilizado para orientar o processo criativo, apoiando-se nas necessidades reais do usuário como ponto de partida para o problema de projeto. Por fim, a Etnografia permite a abertura do arquiteto para a compreensão do outro e de seu universo, auxiliando-o no processo de desfazer-se de suas preconcepções e incorporar a visão do usuário nas tomadas de decisões. Ao final, tornou-se evidente que as metodologias estudadas representam ferramentas de grande potencial a serem utilizadas para pensar e trabalhar a arquitetura em sua dimensão contemporânea, pois elas auxiliam o arquiteto a questionar sua autonomia e sua forma tradicional de atuação, possibilitando a concepção de projetos abertos e colaborativos. |