Resumo |
Neste trabalho, apresentamos os resultados de uma pesquisa que toma, como objeto de estudo, discursos e reações suscitados na mídia, na ocasião de falecimento do humorista Paulo Gustavo em decorrência da Covid-19, principalmente aqueles que expressam algum tipo de emoção aversiva direcionada ao Governo Federal ou aos indivíduos dotados de preconceito em relação ao modo de vida que o ator representava, visto que o mesmo era publicamente assumido perante a sociedade como um indivíduo homossexual que, inclusive, vivia dentro de uma relação homoafetiva. Analisar como as emoções aversivas são articuladas e potencializadas no discurso midiático permite a possibilidade de observarmos como hierarquias de valor e julgamentos morais são negociados na sociedade. A pesquisa se deu de forma qualitativa e exploratória por meio da construção de um corpus de análise composto por notícias e comentários veiculados na internet no período de maio de 2021 a abril de 2022. Posteriormente, o material foi sistematizado através de uma grade análise construída a partir de considerações de trabalhos que problematizam as dimensões socioculturais e políticas das emoções, além de considerações específicas sobre emoções aversivas (AHMED, 2012; ABU LUGHOD; LUTZ, 1990; KOLNAI, 1998; REZENDE; COELHO, 2010; FASSIN, 2013; BRUDHOLM, 2008). Por meio da análise dos discursos apresentados, notou-se que na maioria dos conteúdos, a emoção majoritariamente articulada era ódio, e através dessa percepção, acrescentou-se a categorização dos recortes selecionados sob três direcionamentos de ódio: com objetivo moral de aniquilação; como resposta dada a uma injustiça, tendo como aporte o conceito de ódio retributivo, de Brudholm (2008); e por fim, o ódio como forma de revanche. Assim, foi possível observar que as emoções aversivas, consideradas muitas vezes como emoções negativas, talvez sejam incontornáveis. No entanto, muitas são as formas de indignação ou demanda por justiça articuladas por meio de expressões afetivas aversivas, o que demonstra que nem sempre o ódio, por exemplo, é utilizado de forma destrutiva, mas pode ser mobilizado como uma ferramenta política que visa consertar/promover reflexão sobre causas sociais. Mais do que censurar as emoções, a questão é, portanto, entendê-las como um aspecto de compreensão da realidade, e assim, questionar quais regras as organizam, contra quem elas se dirigem, quem pode expressá-las e o que elas fazem ou permitem fazer. |