Resumo |
O objetivo deste texto é apontar os elementos principias do debate contemporâneo brasileiro sobre a saúde mental, destacando a intensificação dos processos de adoecimento psíquico durante a pandemia de covid-19, chamando a atenção para a necessidade da organização dos sujeitos em defesa dos direitos para as pessoas em sofrimento psíquico. Este debate está situado no Movimento pela Reforma Psiquiátrica, iniciado nos anos 1970 e parte do suposto teórico que a sociedade é mediada por distintos níveis de complexidades e estruturas, sendo indispensável, no contexto contemporâneo, relacionar os aspectos individuais de cada sujeito com o modo com que a sociedade, de maneira coletiva, se reproduz. Na conjuntura capitalista vigente, os sujeitos sociais possuem predisposições para o adoecimento mental (FREITAS, 2013). Alguns pesquisadores apontam o adoecimento mental como o mal do século, dada a significativa incidência de casos nas últimas décadas e o grande impacto negativo na vida de milhões de pessoas. Algumas doenças e transtornos como ansiedade, depressão, síndrome do pânico, insônia e outras, estão relacionadas com as determinações sociais (PAHO, 2022). Algumas pesquisas, realizadas pela Organização Mundial de Saúde revelam que a degradação da saúde mental aumentou significativamente ao longo da pandemia da COVID-19. Para esse estudo, a metodologia utilizada pautou-se em uma pesquisa básica de cunho exploratório, como proposto e descrito por Gil (2008). Portanto busca-se fornecer as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que os fatos sociais não podem ser entendidos e nem considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais (GIL, 2008, p. 14). Segundo uma pesquisa realizada em 2022, pelo Jornal da USP, cerca de 30% da população declarou algum sintoma ansiogênico. Esta mesma pesquisa aponta o perfil sociodemográfico dos sujeitos que estão sendo invisibilizados, sendo eles compostos em porcentagem significativa por mulheres negras, sem acesso à escola, de baixa renda e periféricas. Dados da referida pesquisa “Elsa-Brasil” apontam que ao longo da pandemia da Covid-19 a ausência de rotina diária, bem como a restrição do contato social com amigos e entes queridos, agravaram condições antes já precarizadas. Sarmento (2020) e alguns dados expostos pela Organização Internacional do Trabalho revelam que a mudança na jornada e remuneração do trabalho também contribuiu nesse adoecimento mental, ou seja, o fator financeiro como um acentuador e um dos maiores dilemas. Destaca-se a omissão estatal como contribuição para esse fenômeno, ou seja, a ausência de suporte do Estado em promover políticas públicas destinadas a diagnosticar, tratar e acolher indivíduos com sofrimento psíquico. E ressaltamos a importância das organizações da sociedade civil, em especial dos Conselhos de Direito, para a defesa e ampliação dos direitos das pessoas em sofrimento psíquico. |