Resumo |
Esta pesquisa de Iniciação Científica buscou identificar os imaginários acerca das questões de gênero construídos nos/pelos discursos dos planos de governo de candidatos à presidência nas eleições de 2022, relevantes devido à polarização política do período. Analisamos a mobilização dos ideais de feminilidades que emergiram nos documentos e como se localizaram as estratégias políticas no espectro direita-esquerda. Para compreender as estruturas que sustentam a ordem vigente, fundamentamo-nos nas noções de identidade e diferença (SILVA, 2000) que hierarquizam os grupos sociais criando relações assimétricas de poder. Entendendo o gênero como uma construção sociocultural (SCOTT, 1995) que submete as mulheres ao domínio masculino e impõe limites à ocupação feminina de espaços públicos, restringindo-as à esfera privada, buscamos identificar os vínculos dos programas políticos com a manutenção do sistema patriarcal. Ainda, nos esforçamos para promover uma discussão acerca da participação feminina na política brasileira e sua importância para fazer emergir o caráter estrutural das desigualdades e as pautas dos grupos minorizados, revisando os privilégios dos grupos dominantes. Como aporte teórico-metodológico, utilizamos a Análise do Discurso de linha francesa (CHARAUDEAU, 2006; 2017), que reconhece a capacidade do discurso de significar e organizar sistemas de pensamento, que são mobilizados no Discurso Político a fim de atingir o maior número de pessoas possível, a partir da utilização de saberes compartilhados pela sociedade, e garantir adesão do eleitor. A partir da seleção de seis temáticas que comumente relacionaram-se às questões de gênero (Violência, Trabalho e renda; Trabalho doméstico e maternidade; Saúde; Intersecção gênero e raça; Representação pública), constatamos que as/os candidatas/os de centro ou centro-direita baseiam-se em noções patriarcais de feminilidade, negligenciam algumas temáticas específicas e mantém posição neutra em relação às assimetrias de poder, revelando os valores liberais de universalização dos sujeitos e ocultamento das origens das desigualdades. Enquanto isso, as/os candidatas/os de esquerda reconhecem a interseccionalidade entre gênero, raça e classe e a origem estrutural da subalternidade feminina, corroborando para o fim da opressão sexista e afirmando seu viés ideológico de promoção da igualdade e justiça social. |