Resumo |
O presente estudo objetiva explorar a língua do pensamento crítico contemporâneo da filósofa italiana Silvia Federici, uma vez que a autora tem sido considerada uma grande mente do nosso século. Em seu discurso, Federici reafirma a importância da linguagem, dos conceitos e do caráter emancipador do marxismo, ao mesmo tempo que esclarece por que é preciso ir além de Marx. Nesse sentido, Federici traz para o debate perspectivas contemporâneas sobre gênero, política dos comuns, trabalho, principalmente trabalho doméstico, e desigualdade. Uma desigualdade que escancara a necessidade de expandirmos o imaginário político contemporâneo e construirmos uma nova maneira de olhar para o mundo e de promover a transformação. Para alcançar o objetivo proposto e, considerando que o pensamento materializa-se por meio da linguagem, empreendeu-se uma análise linguística das obras da filósofa e pensadora, por meio da identificação dos itens linguísticos que ocorrem com maior frequência, em duas de suas obras. Assim, o corpus de estudo é composto dos livros: “Mulheres e caça às bruxas” de 2019 e “O patriarcado do salário”, 2021. As análises dos itens lexicais e seus colados, identificados nas obras estudadas, foram realizadas com base nos princípios teóricos e metodológicos da Linguística de Corpus e utilizando o programa computacional AntConc 4.1.1. Após a análise dos itens mais recorrentes no corpus, realizou-se uma análise qualitativa dos itens lexicais e de seus colocados. O foco principal da pesquisa foi nos substantivos e verbos utilizados pela filósofa. O pensamento de Federici é reconhecido no meio acadêmico por sua originalidade e autenticidade. A escritora reconhece a contribuição da obra de Marx, mas não se cala acerca da necessidade de iramos para além de dele, pois a análise de Marx é conduzida apenas a partir do ponto de vista de um determinado setor de trabalhadores, o dos trabalhadores homens. Enquanto isso, Marx esquece da experiência das pessoas menos assalariadas de dentro do mercado e de fora das relações contratuais, aqueles, majoritariamente aquelas, cujo trabalho alimentou a acumulação capitalista e gerou toda uma população de trabalhadores cuja função social é tornar-se parte de uma grande massa de mão de obra. Ao esquecê-las, a mente pensante analisada dá-nos uma compreensão parcial das relações capitalistas, e é com o intuito de aumentar essa compreensão, que Federici evidencia aspectos do feminismo e gênero na teoria de Marx, incitando-nos a adquirir uma percepção certamente nova. A apresentação dos dados e fatos, sua linguagem objetiva, e a bibliografia referencial que Federici utiliza ao seu favor, mesclando temas históricos aos temas atuais e relacionando contextos completamente distintos de maneira que permite a imersão e a compreensão do leitor, são apenas evidências claras, estruturadas na presente pesquisa, do motivo para que a autora em questão venha sendo prestigiada como uma das mais influentes do século 21. |