Resumo |
Ao considerar a existência de um olhar bifurcado que, muitas vezes, separa a crítica do objeto literário, este trabalho vem, por outro lado, para abarcar uma fusão entre o crítico e o poeta, que se desdobra, portanto, em metaliteratura. Frente às posições da segunda geração romântica, esse fenômeno eclode, de antemão, como consequência da desregulamentação da Poética Clássica e também como sintoma irônico da perturbação da consciência romântica, que está ciente da fragmentação do sujeito e da incompletude da palavra. Afloram-se, como objetivos, identificar os contos metaliterários presentes no periodismo da São Paulo acadêmica, compreender os diferentes usos da metaliteratura e agrupá-la em eixos temáticos, a fim de observar, por exemplo, como esses autores formataram uma imagem do poeta e da poesia. Como método deste estudo, presentificam-se, principalmente, o levantamento e a leitura de contos da segunda geração romântica, inseridos em um corpus com cerca de 35 periódicos, disponíveis na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, a serem analisados e catalogados à luz da teorização de Bochicchio (2012) e Duarte (2011). Pensando nos resultados obtidos, levantaram-se 63 contos, divididos em uma lista residual, organizada pela catalogação de temáticas predominantes como byronismo, nacionalismo e amor idealizado, e uma metaliterária — foco da análise. Nesta, encontram-se 34 contos que podem ser interpretados por vieses temáticos. Por meio deles, evidenciou-se que a maioria dos metacontos vão ao encontro do byronismo, uma vez que, possivelmente, o universo noturno e descrente, de caráter conflituoso, possibilitaria um desvinculamento com a plenitude ficcional, abrindo lugar à autorreflexão poética. No que diz respeito ao uso da metaliteratura, uma das preocupações centrais da pesquisa, constatou-se uma forte presença da discussão sobre o código literário, que ora é exaltação, ora é problematização, ora é exposição de uma poética. Isso estaria imbricado tanto com a necessidade de se discutir literatura no bojo de uma sociedade que se capitaliza e que, por efeito, escanteia-a, quanto com a demanda por explicações advinda da ruptura com a preceptística clássica. Tornou-se, também, emblemática a utilização de referências da literatura europeia, formando um cânone acadêmico, o que veio à tona por nomes renomados no campo das letras, como George Sand, Lord Byron, Hoffmann e Goethe. Foi possível também evidenciar a construção de um cânone do século XVIII, trazendo autores como Cláudio Manoel da Costa. Essa questão estaria amalgamada à conhecida necessidade romântica brasileira de se erguer uma história nacional, sendo, nesse sentido, pela literatura. Vê-se, com tudo isso, a confirmação do cultivo à metaliteratura no oitocentismo romântico nos periódicos acadêmicos. |