Resumo |
O projeto ´´Raymundo de Souza Dantas: vida e obra em textos jornalísticos´´ tem como objetivo compreender as obras e a trajetória profissional do primeiro diplomata preto do Brasil a partir de sua atuação enquanto escritor e jornalista em meados do século XX. Raymundo de Souza Dantas era um sujeito preto, nordestino, alfabetizado em idade adulta e que, após migrar para a capital federal, Rio de Janeiro, tornou-se funcionário público e escritor. Depois de despertar a atenção do corpo político brasileiro, foi escolhido como diplomata e utilizado como exemplo da meritocracia pelo Estado brasileiro. Para compreender o olhar deste sujeito sobre o meio em que vivia promovemos, de início, o levantamento de dados relacionados à atuação de Dantas em jornais e revistas cariocas entre as décadas de 1940 e 1960. Percebemos uma atuação do escritor nos periódicos “A Noite”; “O Estado de São Paulo”, “Brasil Açucareiro” e “O Carioca”. Nestes jornais e revistas, Dantas contribuía principalmente com crônicas, nas quais relatava situações cotidianas a partir do seu olhar. Após o levantamento de textos autorais e de referência à Dantas, passamos a analisar especificamente as crônicas escritas por Raymundo. A partir de uma leitura crítica destes documentos, temos percebido um posicionamento do autor sobre a realidade social e política vivenciada no Brasil e sobre a sua condição de sujeito preto imerso nesta sociedade. Raymundo era um sujeito consciente dos usos que eram feitos da sua imagem e de como ele representava uma exceção entre os seus iguais e utilizava as suas obras para expressar o seu descontentamento com algumas dimensões sociais vivenciadas. Logo, a sua escrita era uma forma de expressão da sua subjetividade enquanto sujeito negro na sociedade brasileira. Como aporte teórico utilizamos os estudos de Carlo Ginzburg (1990) a respeito do paradigma indiciário, segundo o qual, devemos procurar pequenas pistas deixadas no caminho a fim de compreender como as narrativas foram sendo construídas e afirmadas e de Eduardo Assis Duarte (2011) sobre a literatura afro-brasileira, que considera este como sendo uma tradição fragmentada da literatura brasileira, marcada principalmente pela apropriação da escrita por sujeitos pretos. |