Resumo |
Após as eleições presidenciais em 2014, Dilma Rousseff iniciou seu segundo mandato em 1º de janeiro de 2015 e, apesar de ter sido reeleita democraticamente, recorrentes representações polêmicas eram atreladas a seu governo pela mídia. Ao escolher noticiar determinados acontecimentos em detrimento de outros, a mídia apresentou extrema influência enquanto propulsora da polêmica em torno do Governo Dilma, chegando a noticiar até mesmo inverdades que causavam desconforto na opinião pública e que, constantemente replicadas em massa, chegaram a impossibilitar o reconhecimento dos fatos verdadeiros e das inverdades, ou melhor, dos boatos. Então, ferramentas de verificação de notícias foram criadas com a intenção de confirmar fatos ou desmentir boatos que surgiam, a fim de conferir a população a veracidade das informações que eram reproduzidas pelos canais de comunicação, além de ensinar como identificar os fatos verdadeiros. Uma dessas ferramentas de verificação, chamada Fatos & Boatos, foi criada pelo próprio Governo durante o processo de Impeachment com o principal objetivo de desmentir boatos negativos sobre a figura de Rousseff. A página utilizava de notas de esclarecimento para direcionar a população a compreender os acontecimentos do cenário brasileiro da época, desmistificando os boatos que eram criados para, através da polêmica dos fatos, intensificar a imagem negativa atribuída à presidente durante seu Impeachment. Dessa maneira, pretende-se, com o apoio da Teoria Semiolinguística, de Patrick Charaudeau, analisar discursivamente as notas de esclarecimento do Governo Brasileiro sobre os fatos e boatos em relação a presidente Dilma Rousseff, em uma tentativa de compreender como ocorre a encenação da polêmica dentro da situação de comunicação. Para isso, serão utilizadas como corpus 15 notas de esclarecimento recuperadas através da página Fatos & Boatos, disponíveis no site do Planalto, as quais mobilizam de certas estratégias argumentativas que recorrem ao cenário de (des)configuração de informações, oficializam explicações e findam proposições inverídicas repercutidas, em grande quantidade, pela mídia. A consideração que se encontra, inicialmente, é a existência de uma encenação da polêmica, isto é, nos discursos analisados nota-se a interpretação de papéis marcados por uma intencionalidade propensa ao atrito entre os sujeitos envolvidos, que gerenciam a polêmica a seu favor. Além disso, apesar de não se tratar dos boatos em si, os discursos analisados interagem com a polêmica. Assim, compreende-se, também, que há uma interseção entre fatos e boatos em determinado nível, tendo tanto as manifestações midiáticas quanto as notas do Governo uma conexão dialógica, contraposta pelas estratégias e intencionalidades utilizadas, mas que existem dentro do campo da encenação discursiva da polêmica. |