Resumo |
A violência contra as mulheres (VCM) é qualquer ato que resulta em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento, sendo considerado um fenômeno multidimensional e complexo, além de problema social e de saúde pública. Dentre os diversos fatores envolvidos, a desigualdade de gênero é a principal causa, consequência de uma ideologia que define a condição feminina como inferior à masculina. Nesse contexto, os estudos de gênero são essenciais para compreender essas desigualdades, identificando estruturas patriarcais de poder historicamente construídas que perpetuam a violência. O Programa Casa das Mulheres, criado em 2010, numa parceria entre o Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero - NIEG/UFV e a Defensoria Pública de Minas Gerais, por meio de diversas ações, contribui para o enfrentamento à VCM em Viçosa e região. Objetivo do presente estudo foi analisar o perfil das mulheres em situação de violência, considerando a raça, a escolaridade e o bairro de residência. Os dados utilizados foram produzidos pelo Observatório da Violência Contra a Mulher, projeto vinculado ao Programa Casa das Mulheres, tendo como referência o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, para o ano de 2019. Para definir os bairros periféricos, foi adotado como critério os mais distantes da zona central. A análise mostrou que há maior notificação de mulheres negras (64%), indicando uma interação entre violência e raça/cor. É importante ressaltar que essa informação é baseada na autodeclaração, reconhecendo que algumas mulheres podem enfrentar dificuldades em identificar ou declarar sua raça/cor, devido a fatores sociais e culturais. O percentual de mulheres com ensino médio incompleto representa (58%) e, como a educação é fator de emancipação, as mulheres com menor nível de escolaridade têm maior vulnerabilidade às violências, devido a correlações com fator desvantagens socioeconômicas, por exemplo. Os dados demonstram que 80% das vítimas residem em bairros periféricos e 20% nos bairros centrais, refletindo a intersecção de fatores como desigualdade social, acesso à segurança, construções socioculturais desfavoráveis, dentre outros. Diante do exposto, concluímos que a interseccionalidade das opressões enfrentadas pelas mulheres de Viçosa, corroboram a literatura. A maior incidência de VCM entre negras ressalta como a violência atinge majoritariamente as mulheres racializadas que enfrentam múltiplas formas de discriminação devido aos estereótipos racistas. Essa realidade é agravada pela baixa escolaridade, que limita suas perspectivas de autonomia econômica e pela negligência estatal presente, principalmente, nas regiões periféricas, onde a falta de infraestrutura e serviços básicos propiciam ambientes vulneráveis que possam advir dessa exposição. Essas reflexões são fundamentais para a formulação de políticas públicas inclusivas e a implementação de serviços de apoio adequados para combater a VCM em todas as suas dimensões, principalmente na periferia. |