Resumo |
Introdução: até o século XIX, parir era sinônimo de um evento íntimo e natural, vivenciado pela mulher e pelo bebê. No entanto, a partir do século XX, os partos passaram a ser institucionalizados, ou seja, realizados em hospitais, repletos de profissionais e aparatos tecnológicos. Apesar dessa mudança oferecer maior segurança à assistência à possíveis intercorrências, esse cenário resultou em intensa e progressiva medicalização dos partos, se generalizando a maioria dos nascimentos, tornando mulheres e recém-nascidos vulneráveis aos riscos do parto cirúrgico, como infecções e sangramento, sem as reais indicações clínicas para sua realização. Objetivos: comparar o número de nascidos vivos, via parto vaginal e cesárea, em Minas Gerais, entre 1994 e 2021. Metodologia: estudo de dados secundários, acessados através do Sistema de Informações de Saúde (TABNET) – DATASUS. Foram emitidos relatórios do número de nascidos vivos, entre 1994 e 2021, via parto vaginal e cesárea, no Estado de Minas Gerais. Optou-se por iniciar a investigação pelo ano de 1994, por se tratar do primeiro ano de disponibilização dos dados no sistema e, posteriormente, análise das décadas de 2001, 2011 e 2021, sendo esse, o último ano de registro. Foram excluídos do estudo, os dados ignorados e partos realizados com fórceps. Resultados: observou-se diferença entre o número de nascimentos pelos dois tipos de parto e suas variações ao longo dos anos, sendo, por parto vaginal: 1994 (33.778 – 54,35%), 2001 (176.365 – 59,08%), 2011 (114.744 – 44,15%) e 2021 (101.587 – 41,95%) e cesárea 1994 (25.842 – 41,58%), 2001 (120.775 – 40.45%), 2011 (144.370 – 55,55%) e 2021 (140.397 – 57,98%) nascimentos. Desse modo, é possível ressaltar o aumento das taxas de ambos os tipos de parto, entre 1994 e 2001, no entanto, em relação à via vaginal, há um decréscimo significante, nas décadas de 2011 e 2021, o que não é observado no cenário do parto cirúrgico que, pelo contrário, continuou em ascensão. Conclusões: de acordo com as evidências científicas, esse acontecimento pode ser explicado pela assistência obstétrica hospitalocêntrica, a partir do século XX, relacionada a fatores socioculturais (maior poder socioeconômico, medo da dor do parto, mitos sobre o parto vaginal) e fatores associados à assistência profissional ao parto, como maior praticidade do parto cirúrgico, treinamento obstétrico ineficiente para atender ao parto vaginal e escassez de profissionais. Portanto, pode-se concluir a presença de um cenário obstétrico, apesar de seus riscos, medicamentoso e intervencionista, em detrimento dos benefícios conhecidos, do parto vaginal, ao binômio mãe-bebê. Assim, faz-se necessário investimentos em educação em saúde, para mulheres, e educação continuada, para profissionais de saúde, com o objetivo de reduzir as taxas de cesáreas e otimizar a atenção, ao parto e nascimento, de forma natural e humanizada. |