Resumo |
A abóbora (Cucurbita moschata) é amplamente utilizada na indústria de alimentos para a produção de conservas, geleias, doces e outros. Entretanto, durante o beneficiamento, são descartadas grandes quantidades de cascas, sementes e folhas. As sementes de abóbora (SA) são ricas em lipídios, proteínas, vitaminas e minerais. As proteínas das sementes de abóbora (PSA) apresentam baixa solubilidade em água o que limita seu uso em formulações alimentícias. A fim de obter um hidrolisado protéico de SA com propriedades técnico-funcionais aprimoradas em comparação com a proteína nativa, diversas proteases podem ser usadas. A Neutrase® é uma protease comercial composta por uma mistura de peptidases com atividades exo e endopeptidase. A hidrólise enzimática (HE) oferece vantagens como especificidade de substrato e controle do processo. No entanto, o custo elevado das enzimas, longo tempo de reação e o baixo grau de hidrólise têm dificultado a aplicação desse processo em escala industrial. O ultrassom (US) vem sendo utilizado em conjunto com a HE para melhorar a eficiência do processo. O US pode modificar as estruturas das proteínas, tornando-as mais acessíveis à ação enzimática. Portanto, este estudo avaliou o impacto do US no pré-tratamento da Neutrase® e do concentrado proteico da semente de abóbora (CPSA) por meio da determinação da atividade relativa da enzima (AER). Para isso, o CPSA foi obtido por método de extração alcalina com precipitação isoelétrica. Inicialmente foi realizada a determinação da temperatura ótima da enzima usando 1% p/v da CPSA em solução tampão de fosfato de sódio (0,1 M, pH de 7,5) variando a temperatura de 25 a 70 °C, sendo 50 °C definido como temperatura ótima da enzima. Posteriormente, o processo ultrassônico foi realizado com uma potência volumétrica real de 38,0 W/L por um tempo de até 180 minutos nas temperaturas de 25, 40 e 50 °C. A atividade enzimática relativa após o processamento por US da enzima (AERE) ou do substrato (AERS) foi calculada considerando a atividade das amostras processadas por US em relação às não processadas. Verificou-se que o pré-tratamento da Neutrase® por US em todas as temperaturas avaliadas foi capaz de promover ativação enzimática, com um aumento de AERE de até 22,7% a 25°C/60min, 19,0% a 40°C/60min e 17,4% a 50°C/60min (p<0,05). Além disso, verificou-se um aumento na AERS independente da temperatura de pré-tratamento, sendo o aumento máximo de 22,0%, 19,2% e 21,8% após o pré-tratamento do CPSA nas temperaturas de 25 °C (após 180 min), 40 °C (após 60 min) e 50 °C (após 180 min), respectivamente (p<0,05). Esses efeitos são, provavelmente, consequências do colapso das bolhas de cavitação provocadas pelo US, que em condições específicas induziram mudanças conformacionais na estrutura da Neutrase® e das PSA favorecendo a catálise enzimática. Portanto, conclui-se que o US é uma estratégia interessante para potencializar a ação Neutrase® sobre CPSA, seja no pré-tratamento da enzima ou do substrato. |