Resumo |
Este trabalho é resultado parcial da pesquisa de mestrado, que tem como objeto de estudo a Fazenda Limeira, no município de Guaraciaba, MG. Essa fazenda é considerada um patrimônio cultural do município e foi tombada por meio do decreto nº 132/2017, pelo seu valor representativo como bem arquitetônico do século XVIII e construída por escravos e também pela sua importância histórica, pois a mesma é considerada uma representante da história do município, por ser uma edificação datada de 1712. Assim, objetivou-se entender o porquê de um patrimônio cultural, considerado pelos órgãos públicos um representante da história e da memória de seu povo, estar se deteriorando, pois o tombamento a protegeu, mas não a preservou. Para levantamento dos dados, foi realizada pesquisa documental nos arquivos da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer e Turismo; arquivos em livros paroquiais (nascimento, casamento e óbitos) impressos e digitalizados a partir de 1849; arquivos de cartórios de Guaraciaba, Ponte Nova e Porto Firme, bem como o acervo online do Arquivo Público Mineiro. Entre os documentos analisados, estão: regimento interno e atas de reunião do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Guaraciaba, Dossiê de Tombamento da Fazenda Limeira e Livro do ICMS do Patrimônio Cultural da cidade, arquivos de terras públicas do arquivo público mineiro. Como resultados parciais, temos que a Fazenda Limeira tem sua história entrelaçada com a história de Guaraciaba; que foi habitada por duas famílias desde o século XIX, de sobrenome “Oliveira Guedes” e “Conrado Celestino”, representados pelo casal Maximiano Conrado Celestino e Joana Maria da Cruz e o casal Antônio de Oliveira Guedes e Carlota Guedes. Presumimos serem os patriarcas destes casais os fundadores da fazenda. Além da história da fazenda e de seus moradores, identificamos que a fazenda Limeira possui dois tombamentos, um em 2014 e outro em 2017, que é o tombamento contido no Dossiê encaminhado ao IEPHA. Percebemos que o discurso em torno do tombamento da fazenda é unilateral, envolveu agentes do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural da cidade, e não há registro da participação da comunidade nem da família proprietária da mesma no processo. Assim, conclui-se que o patrimônio cultural da Fazenda Limeira enquanto uma representação exterior da memória dos Guaraciabenses, foi socialmente construída por agentes do poder, que selecionaram histórias relacionadas à criação do município e sua arquitetura, ao mesmo tempo em que promoveram, mesmo que indiretamente, o esquecimento da fazenda enquanto um lugar de memória e de construção do saber. |