Resumo |
Na análise do discurso, diz-se que os sentidos ganham maior legitimidade e notoriedade conforme ressoam na língua (SIEBERT, 2020). Em 2016, a palavra “pós-verdade” foi eleita a palavra do ano pelo dicionário Oxford pelos critérios da frequência de pesquisas na internet e da relevância cultural do termo, o que significa dizer que ela se tornou comum dentro da cultura, principalmente digital, ganhando notoriedade. A distorção ou efetiva omissão da verdade observada na definição do termo eleito também é comum aos termos “desinformação”, “fatos alternativos” e “fake news”, o que nos leva a classificá-los, de forma simples e direta, como mentira. Assim, a ascensão desses termos na atualidade, as razões pelas quais se diferem, mas mantêm a referenciação ao mesmo fenômeno, bem como o motivo da mentira ter assumido tantas formas diferentes, são questões levantadas ao se deparar com esses fatos. Dessa forma, o objetivo principal da pesquisa foi identificar e descrever os contextos de uso de cada um dos termos nas línguas inglesa e portuguesa e discutir como a palavra mentira tem sido referenciada em diferentes contextos de uso e por quê. Para atingir o objetivo proposto, o estudo utilizou dos princípios teóricos e metodológicos da Linguística de Corpus, e foram criados dois corpora - conjuntos de textos naturais coletados criteriosamente que representam uma língua com o propósito de servirem para estudo linguístico -, um corpus da Língua Portuguesa e um corpus da Língua Inglesa, compostos de 3 subcorpora cada, dos gêneros “jornalístico”, “artigos acadêmicos” e “livros”, nos quais se observa a ocorrência dos termos sob análise. Os dados foram interpretados pelo programa computacional AntConc 4.1.2, pelo qual se determinou a frequência e os colocados comuns com cada termo, descritos em tabelas elaboradas manualmente com a finalidade de identificar os contextos de uso e verificar como se aproximam nas duas línguas. Após análise crítica orientada pelos princípios da vertente britânica da Análise do Discurso Crítica, os resultados apontaram a prevalência da utilização de todos os termos no âmbito político, especialmente no que se refere aos acontecimentos recentes que irromperam nos Estados Unidos e no Brasil, com campanhas eleitorais sustentadas na distorção de informações que culminaram em atos que arriscaram a democracia, seja por fanatismo político ou por pura desinformação. Isso posto, levando-se em consideração que todo discurso produzido nunca está livre de viés ideológico e que, o homem e suas estruturas organizacionais em sociedade se configuram como produto dos discursos em textos, pôde-se concluir que a fabricação e disseminação da mentira no meio político é um meio de perpetuação da dominação na sociedade da informação. A mentira pública é um exercício de poder e estudá-la é um possível meio de evitar a contaminação do nosso sistema de valores e crenças, de modo a recuperar a verdade. |