Resumo |
O gênero Barbacenia possui cerca de 100 espécies exclusivamente neotropicais, ocorrendo principalmente na Cadeia do Espinhaço. Pela primeira vez foram registradas espécies de Barbacenia na região do Alto Paranaíba-MG. Barbacenia ignea Mart. ex Schult. & Schult.f. e Barbacenia tomentosa Mart. foram encontradas no campo rupestre, em Rio Paranaíba, no domínio Cerrado, que é um hotspot de biodiversidade, sendo um dos mais ameaçados do Brasil devido a queimadas antrópicas, pecuária e mineração. Objetivou-se com este estudo verificar a anatomia foliar das duas espécies de Barbacenia que ocorrem no Alto Paranaíba, relacionando as suas estratégias adaptativas ao ambiente e para fins taxonômicos. Foram coletadas 3 folhas de cada um dos 3 indivíduos das 2 espécies e também foi depositado um voucher de cada espécie no Herbário do Alto Paranaíba (HALP). As amostras foliares foram fixadas em FAA50%, desidratadas em série etílica crescente e incluídas em historesina Leica, cortadas a 10 micrômetros de espessura e coradas com azul de toluidina. Para análise da vista frontal da epiderme, foi utilizada a técnica de diafanização, conforme metodologia usual. As amostras foram fotografadas em fotomicroscópio Nikon (Eclipse E200). Para os estudos taxonômicos foi montada uma chave de identificação, utilizando tabelas anatômicas comparativas. As espécies de Barbacenia apresentaram cutícula espessa, epiderme uniestratificada, presença de tricomas tectores, feixe vascular colateral com calotas de fibras que se estendem até a epiderme da face adaxial e abaxial, folhas anfiestomáticas, com estômatos pequenos. As células da epiderme de B. ignea e B. tomentosa apresentam formato tabular, porém em B. tomentosa essas células são mais achatadas. B. ignea possui um mesofilo homogêneo aquífero, no entanto, em algumas regiões observou-se a presença de células tendendo a parênquima paliçádico, voltado para a epiderme da face adaxial. Em B. tomentosa, o mesofilo é dorsiventral, com poucos espaços intercelulares no parênquima esponjoso. As duas espécies apresentaram idioblastos com prováveis compostos fenólicos ao longo do mesofilo. Outra característica marcante e utilizada para separar uma espécie da outra é a presença de células longitudinalmente posicionadas no mesofilo, com composto fenólico, ligando um feixe vascular a outro, exclusivamente encontrada em B. tomentosa. Os resultados da anatomia foliar de Barbacenia indicaram estratégias adaptativas relacionadas com a tolerância ao déficit hídrico e associadas ao habitat de ocorrência destas espécies, como por exemplo, cutícula espessa, células com composto fenólico, mesofilo compacto e calotas de fibras. Além disso, os caracteres anatômicos foram importantes para construção da chave de identificação, com aplicações taxonômicas. Estes resultados também podem ser úteis para futuros trabalhos de conservação dessas espécies e do ambiente onde elas ocorrem. |