Resumo |
Introdução: Entre as condições crônicas com maior evidência de caráter multifatorial tanto na etiologia quanto na progressão, destaca-se a Doença Renal Crônica (DRC), definida como alterações estruturais e funcionais dos rins a longo prazo. A partir do diagnóstico, o estadiamento é uma forma de classificação do nível de acometimento, a fim de predizer tratamentos e prognósticos. Diante de amplos desfechos que podem levar à morte, há a necessidade de priorização de estratégias de controle da progressão da DRC. O declínio da Taxa de Filtração Glomerular (TFG) relaciona-se com o estadiamento e o aumento da mortalidade. Embora a hemodiálise favoreça o aumento da sobrevida, reúne complicações que interferem na qualidade de vida dos indivíduos acometidos. Assim, é preciso compreender a dinâmica do estadiamento da DRC, associações bioquímicas e sociodemográficas. Objetivo: Analisar a relação entre a TFG e os parâmetros bioquímicos e sociodemográficos em indivíduos recém-admitidos na hemodiálise. Metodologia: O estudo é um desenho transversal de linha de base, com dados retrospectivos de 20 anos, realizado entre 1998 a 2018. A amostra contou com 422 pacientes atendidos e acompanhados pelo Serviço de Nefrologia da microrregião de saúde de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Os dados da pesquisa foram obtidos de prontuários médicos dos pacientes em tratamento e do sistema de registro computadorizado do Serviço de Nefrologia (dados secundários). Foram realizadas análises descritiva, univariada e regressão linear múltipla. As análises foram realizadas com o Software IBM SPSS Statistics 23.0. Resultados: A idade média no início da hemodiálise foi de 64,02 ± 15,21 anos. A doença renal hipertensiva crônica representou 33,4% dos casos com etiologia variada. A TFG média, calculada pela fórmula de CKD-EPI, foi de 10,13 ml/min/1,73m². Com base nos resultados da análise univariada, as seguintes variáveis foram incluídas no modelo de regressão linear múltipla: sexo, estado civil, idade, taxa catabólica de proteína normalizada (nPCR), glicose, albumina, ferritina e paratormônio (PTH). De acordo com a análise multivariada, o sexo, estado civil, nPCR, glicose e PTH estiveram independentemente associados à TFG, sendo que quando se aumenta 1 unidade do nPCR e PTH diminui a TFG em 2,3 (p<0,001) e 0,004 (p<0,014), respectivamente. E quanto aumenta 1 unidade de glicose, aumenta-se também a TFG em 0,02 (p=0,014). Ainda, ser do sexo feminino e estado civil separado, aumenta a TFG em 1,9 (p=0,002) e 3,8 (p=0,012), respectivamente. Conclusão: A DRC é evidenciada por ser uma doença crônica não transmissível com alta prevalência de internações e mortalidade. Portanto, ao analisar a relação entre a TFG e os parâmetros bioquímicos e sociodemográficos em indivíduos recém-admitidos na hemodiálise, a relevância do presente estudo, reside na possibilidade de aprofundamentos sobre os mecanismos que irão se traduzir em causalidades e formas de estabelecer um melhor prognóstico. |