Resumo |
O ingresso de pessoas com deficiência (PcD) no serviço público brasileiro tem se intensificado nos últimos 30 anos, em função de uma tendência global de humanização que encontra amparo em nosso ordenamento jurídico. No entanto, embora esses instrumentos normativos visem assegurar a observância do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana no que tange às PcD, não se pode afirmar que esses indivíduos, ao serem admitidos nas instituições e organizações públicas, obtêm o devido acompanhamento e atenção de modo a encontrar boas condições de trabalho que lhe permitam uma inclusão plena. Isto posto, o presente estudo busca compreender como servidores técnico-administrativos com deficiência percebem a qualidade de vida no trabalho (QVT) no campus sede de uma instituição de ensino superior, e como esta poderia promover melhorias na QVT desses agentes públicos. Para tanto, partiu-se de uma abordagem qualitativa com cunho descritivo e baseada em dados primários, coletados por meio da realização de entrevistas semiestruturadas com representantes do setor de pessoal da instituição e com servidores que possuem deficiência. Posteriormente, os relatos dos participantes da pesquisa foram explorados utilizando a análise de conteúdo e contando com o suporte do modelo teórico de Walton. A partir dos resultados, constatou-se que os entrevistados percebem uma evolução no processo de inclusão da universidade, manifestam orgulho em compor seu quadro de pessoal e consideram relevante o serviço por ela prestado, além de avaliarem positivamente o equilíbrio propiciado entre a vida laboral e extralaboral desses trabalhadores. Nada obstante, ainda se fazem necessárias ações para que os servidores com deficiência percebam maiores níveis de QVT, principalmente nos procedimentos relacionados ao ingresso e ambientação, à acessibilidade dos espaços físicos e à própria construção de carreira de pessoas com deficiência. Dessa forma, as análises viabilizaram diversas recomendações, a exemplo de: promoção de capacitação para profissionais de gestão de pessoas e para chefias e equipes de trabalho das PcD; realização de campanhas informativas e de conscientização/sensibilização sobre deficiência; criação de uma comissão multiprofissional que trabalhe questões voltadas à deficiência e ofereça suporte às PcD que integram o quadro de servidores da universidade; realização de estudos para definir a (re)alocação desses servidores; elaboração de um planejamento para acessibilidade que atenda às necessidades desse grupo a curto, médio e longo prazo; e investimento para que o programa de QVT para servidores promova maior inclusão das pessoas com deficiência, sendo, também, melhor divulgado e continuamente avaliado. |