Resumo |
Dada a intensificação de estudos das cidades e seu espaço territorial e simbólico nas últimas décadas, o processo de formação das cidades passou a ser analisado por novas óticas, que abrangem a cidade como um espaço dialético, com disputas políticas, econômicas, simbólicas e identitárias. Nesse bojo o turismo cultural, que cresce a partir da década de 90, pode ser analisado a partir de uma ótica mercadológica, influenciado por uma tendência global. Para interpretar as cidades turísticas é preciso compreender tanto os processos de formação da cidade como as estratégias do turismo e a competição no mercado mundial. Essa pesquisa busca compreender os desdobramentos espaciais e identitários de Diamantina decorridos do desenvolvimento do turismo a partir de um nexo global-local. O trabalho busca abarcar as ações da iniciativa pública e privada na construção de sentidos e as dialéticas procedentes da absorção da população local e dos visitantes. Para a pesquisa foi utilizada uma abordagem qualitativa, que compreendeu a realização de quinze entrevistas com citadinos, turistas e membros do poder público e privado da cidade. Ademais, a coleta de dados contou com conteúdo documental e imagético. A historicidade e tradição do turismo em Diamantina contribuem para uma visão positiva da atividade na cidade. No entanto, ainda ficam evidenciadas falhas e a desorganização do poder público, que apresentam um sistema de governança desigual diante aos outros setores organizacionais (iniciativa privada e população geral). Devido a isso, o potencial total da cidade de se beneficiar com o turismo é prejudicado, e a população fica à margem do desenvolvimento econômico da cidade. Outra consequência do processo de mercantilização da cidade é expressa pela gentrificação. Com a centralização das atividades turísticas no centro histórico, a região sofreu com a valorização imobiliária, comercialização e reformulação, influenciando no deslocamento da população de baixa renda para regiões periféricas. Esse processo evidencia uma separação entre turista e população, que muitas vezes não tem acesso às mesmas atividades devido à renda insuficiente, o desconforto ou a falta de divulgação por parte do poder público. Surge então a sensação de falta de pertencimento dentro da própria cidade, e desenvolvimentos culturais da população marginalizada ficam restritos a regiões periféricas. Dessa forma, entende-se que Diamantina busca se adequar ao turismo desenvolvido na modernidade, e satisfazer a nova classe de turistas. No entanto, para isso, negligencia a própria população, levando a um apagamento identitário e a construção de uma cultura artificial. Finalmente, Diamantina compartilha sofrer dos mesmos problemas de gestão que outros países em desenvolvimento, que atravessam a falta de planejamento e a desigualdade entre os diferentes setores da comunidade. |